Abandonado há mais de 20 anos, o Cine Duarte Coelho, no Varadouro, em Olinda, traz à mostra um único suspiro de vida perceptível: os desenhos e dizeres grafitados em sua fachada. “Kangaço anti kapital”, “Ousadia não se compra na esquina” ou ainda “Distraídos venceremos” ornamentam as paredes descascadas e cinzas de fuligem do local. A vida agitada e áurea do Duarte Coelho, inaugurado em 1942, durou menos de 40 anos. Segundo a secretária de Patrimônio Histórico de Olinda, Cláudia Rodrigues, a baixa no número de público foi o fator que levou o cinema, de 270 lugares, a fechar as portas.
A menos de dois quilômetros do Duarte Coelho, o Cine Olinda, no Carmo, tenta recuperar sua elegância art-déco, localizado entre a praça e o mar, com os quais dialoga. Fechado desde a década de 1970, sua situação está melhor que seu “vizinho”: a reforma do equipamento foi retomada em maio deste ano e tinha prazo de entrega marcado para este mês. A questão é que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) já postergou para (provisoriamente) o início de 2014.
Assim como em quase todas as obras públicas, os processos licitatórios, de liberação de verba e de requalificação são lentos para os dois cinemas olindenses. “Em 1998, a Prefeitura de Olinda chegou a iniciar uma obra de requalificação, mas teve que interrompê-la por falta de recursos”, relembra Cláudia. A gestão municipal era, então, de Jacilda Urquiza (PMDB), que recebeu R$ 700 mil do Governo Federal para recuperar o imóvel do Duarte Coelho. Três anos depois, uma CPI foi aberta para investigar a ex-prefeita e desvios de verba ocorridos em seu mandato. Mas a investigação, assim como a tão prometida requalificação do local, não teve desfecho.
Atualmente, as obras do Cine Duarte Coelho estão orçadas em R$ 4, 766 milhões, mas ainda não têm data definida para início. “Vai depender da licitação. O projeto executivo foi realizado com recursos municipais de R$ 156 mil e fomos selecionados através do PAC. O projeto está atualmente no Iphan, esperando a seleção para licitação. A previsão é de que saia ainda esse ano”, diz Cláudia. Fachada, cadeiras e os 80 m² da boca de cena serão requalificados, e um cineteatro escola vai passar a existir, com duas salas de cine-animação.
Enquanto o Cine Duarte Coelho aguarda sua vez na fila, o Cine Olinda segue em obras. A parte estrutural já foi feita. Agora chegou a vez das tintas, das instalações de poltronas, do ar-condicionado e da iluminação. A novela da sua recuperação começou há 12 anos, na gestão da então prefeita Luciana Santos, em 2002. Dois anos depois, as obras pararam e só foram retomadas em 2006. Na época, Luciana justificou o atraso esclarecendo que uma verba de mais de R$ 1 milhão (oriunda da Petrobras) nunca havia chegado, de fato, ao município. Em maio de 2006, R$ 1, 150 milhão foi repassado para o cinema, mas a obra novamente não conseguiu ser concluída.
Segundo o superintendente do Iphan de Pernambuco, Frederico Almeida, as obras nessa primeira etapa de reforma do Cine Olinda estão orçadas em R$ 1,4 milhão. “O que falta ser licitado é trabalho de complemento, mobiliário”, assegura. Após mais de 40 anos de vai e vem, a reforma finalmente foram retomada no início do ano e junto às novas camadas de tinta, nasce a esperança de que os olindenses resgatarão o hábito de frequentar os cinemas de rua.
Leia a matéria na íntegra na edição deste sábado (07) no Caderno C, do Jornal do Commercio.