ANOS 80
No final dos anos 80, Bob Dylan aproximava-se dos 40 anos, parado em meio de uma encruzilhada, sem saber que rumo tomar, mas se recusando a firmar um pacto com o capeta. O Judeu Bob Zimmerman converteu-se ao cristianismo. A trilogia de álbuns cristãos é, provavelmente, a fase em que o público menos se identifica com ele. Evangélicos cobriram de louvores a lenda do rock transformada em cristão novo, foi abandonado pelos antigos fãs. Novamente Dylan voltava a ser vaiado no palco, agora pelo proselitismo religioso (nos shows não cantava canções de outras fases, nem mesmo a inevitável Blowin in the Wind).
Com exceção de Saved, que a gravadora só lançou por ser de Bob Dylan, há nesta trinca de discos grandes canções, sobretudo no terceiro deles, Shot of Love (1981). Em 2003, estrelas da música gospel americana gravaram o elogiado The Gospel Songs of Bob Dylan, coletânea de canções pinçadas da trilogia. O disco foi indicado ao Grammy,
Uma nova geração debruça-se sobre a obra oitentista de Dylan (incluindo o projeto paralelo The Traveling Wilburys), e redescobre canções como Wiggle, wiggle,, wiggle, com Aaron Freeman e Slash, Death is not the end, com Carl Broemel, ou Series of dreams, com a Yellowbirds. A canção mais conhecida do primeiro volume de Dylan nos 80 é Congratulations, do Traveling Wilburys (banda que formou, meio de brincadeira, com George Harrison, Jeff Lyne, Tom Petty e Roy Orbinson), que nem chegou a ser realmente um hit.
Não tem nada de excepcional nesta compilação de covers que, provavelmente acabará como uma a mais na extensa lista de tributos a Bob Dylan. Tributos, aliás, com raras exceções, são muito desiguais. Porém Bob Dylan in the 80s já está servindo para que sejam reouvidos com mais atenção álbuns como Infidels (1983), ou Oh mercy (1989).
Canções do porão Resultado de caudalosas sessões de gravações, com The Band, em sua casa, em Woodstock, depois do acidente de moto, em 1966, The Basement tapes é um dos discos mais surpreendentes na obra de Dylan, de canções estranhas, de letras cheias de simbolismos, de uma fase em que ele nem se assumia como Bob Zimmerman, nem conseguia destruir o mito Bob Dylan.
É esperar para ver no que dá o reecontro com este passado já distante, com letras e fragmentos de canções, com a heterodoxa banda, cujo nome mais conhecido é o de Elvis Costello. O produtor é T-Bone Burnett, responsável pela árdua tarefa amarrar o que Dylan pensava, há mais de quatro décadas, em condições totalmente particulares e diferentes,. com o complemento criado por músicos vivendo outros tempos, e outras situações; O projeto rende ainda um documentário Lost songs: the basement tapes continued, de Sam Jones.