Festa da Lavadeira ocorreu em ritmo de protesto nesta quinta-feira

Evento reuniu brincantes de diversas cidades, mas em proporções muito menores das que ocorriam nos anos anteriores. Brincantes exigem mais apoio do órgãos governamentais
Valentine Herold
Publicado em 01/05/2014 às 19:15
Evento reuniu brincantes de diversas cidades, mas em proporções muito menores das que ocorriam nos anos anteriores. Brincantes exigem mais apoio do órgãos governamentais Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Foi em forma de ato de protesto – disperso, é certo, mas presente no discurso politizado dos participantes – que a 28° edição do que seria a Festa da Lavadeira, Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco, aconteceu na tarde desta quinta-feira, 1° de maio,  na Avenida Nossa Senhora do Carmo, área central do Recife. Cidade essa que passou a fazer sentido apenas recentemente na história do evento. Desde que foi criado, em 1987, o encontro que reúne diversas manifestações da cultura popular pernambucana, tomava conta da praia do Paiva.

Há dois anos,  as nações de maracatus, os grupos de coco, os caboclos de lança e os cabolinhos tiveram que migrar para a capital pernambucana pois os proprietários do terreno em que ocorria as manifestações pediram que deixassem o local. Mas o protesto do que nesta 28° edição foi denominada de Vamos passear não advém apenas da mudança de local: os brincantes exigem mais ajuda dos órgãos governamentais. O apoio em 2014 não se deu financeiramente, como ocorria de costume, mas sim de maneira estrutural. Foi alegada falta de antecedência por parte da organização para os pedidos. 

“A gringada vem para ver os macaratus, os grupos de coco, mas o Estado prefere dar 200 mil reais a um grupo de tecnobrega”, queixa-se o integrante da organização do evento, Wilson Maraca. “É um dano moral coletivo à cultura popular brasileira. Um ato de racismo institucional”, complementa o músico Alexandre L’Omi L’odò. 

O encontro teve início pontualmente às 14h, mas até às 16h30 reunia cerca de 1,5 mil pessoas, contra os 30 mil que antes compareciam, segundo o organizador Eduardo Melo. Mais e mais brincantes começavam a chegar no final da tarde, ao som dos maracatus de baque virado que se apresentavam no palco.

Nathália Paixão frequenta a festa há sete anos e avalia que muita coisa mudou. “Além da quantidade de pessoas, mudou principalmente o respeito. Antes, todas as agremiações participavam e hoje a gente só recebe trios e falta banheiros químicos”, diz. Sua amiga, Paula Nunes é mineira e mora no Recife desde o início do ano. Mudou-se justamente por amor à cultura popular local. “Vinha todos os anos no carnaval desde 2001. Lá em Belo Horizonte eu já fazia parte de um baque de maracatu e sempre ouvia falar da Festa da Lavadeira, sonhava em conhecer”, desabafa. 

De agora em diante, os brincantes desejam começar a se movimentar meses antes da festa, desde o presente momento para poder conseguir de volta o evento grandioso que tinham. E continuar a levar adiante a tradição de quase 30 anos.

Leia mais na edição desta sexta-feira (2) no Caderno C, do Jornal do Commercio.

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