Ele próprio, produziu os primeiros discos de duas bandas desta época, O Terço e A Bolha. A Continental foi uma das gravadoras que mais investiram no rock nacional quando este alcançava a maioridade, influenciados pelo rock inglês e americano. Em São Paulo, no bairro da Pompeia tinha a cena mais fértil do País. Começando pelos Mutantes, Tutti Frutti, que depois seria a banda de Rita Lee, e Made in Brazil, além de integrantes e bandas como Casa das Máquinas e Som Nosso de Cada Dia. O paulista Toni Babalu, morador da Pompeia e guitarrista do Made in Brazil há 40 anos, nem sabe bem porque não viu o show de Alice Cooper no Anhembi. Tampouco explica a razão de tantos roqueiros no mesmo bairro: “Tem até uns estudos sobre isso e estão fazendo um documentário. Sei que na época todo mundo começou a fazer rock, um ia no ensaio do outro, rolava uma amizade. Mas o rock era ainda um produto novo, as gravadoras não sabiam como vender aquilo. Então o Made in Brazil era mais cult, vendia bem, mas nunca conseguiu um grande sucesso”, diz o guitarrista, que acaba de lançar o primeiro disco solo, Live sessions at Mosh. O estúdio Mosh, por sinal, é de mais um músico da Pompeia, que tocou na banda pop Os Pholhas.
Ave Sangria, Almôndegas (banda de Kleiton e Kledir), Bixo da Seda, Moto Perpétuo (do vocalista Guilherme Arantes), estas e outras bandas não agradaram à crítica da época, venderam pouco e logo foram dispensadas da gravadora. Somente no ano seguinte, Rita Lee, com Atrás do porto tem uma cidade mostraria que o rock brasileiro era viável comercialmente, colocando Ovelha negra, nas paradas do Brasil inteiro. Mas mesmo a ex-Mutantes não agradava a nascente crítica profissional brasileira: “Rita Lee Jones, 25 anos, paulista, natural de Americana, e remanescente do grupo os Mutantes, perdeu a ingenuidade que usava com seus ex-companheiros como matéria-prima. Não conseguiu encontrar o amadurecimento nem conseguiu recuperar o seu senso de humor. Atrás do porto tem uma cidade é o seu segundo álbum solo, o primeiro com o grupo Tutti Frutti. Apesar da inegável qualidade dos seus músicos (fato raro no gênero), falta às suas nove canções, um mínimo de substância, ideia, invenção”, a crítica no então influente jornal alternativo Opinião, assinada por Ana Maria Bahiana. O disco hoje é um dos clássicos do rock nacional.
Ela até poupa o pernambucano Ave Sangria, lançada pela Continental: “O Ave Sangria (ex-Tamarineira Village) ainda tem, com sua tosca mistura de rock, samba, baião e balada, uma lembrança distante dos tempos ingênuos da Jovem Guarda. Dele parece inútil exigir qualidade ou perfeição, mesmo porque ele deixa claro sua intenção de assumir justamente esse lado pobre, primitivo do rock brasileiro”. Depois de baixar a ripa no Som Nosso de Cada Dia, do ex-Incrível Manito, Ana Maria arremata: “O equívoco do rock no Brasil não é sua presença, mas as distorções de uma assimilação que nunca chegou a existir”. Embevecidos pela tecnologia que passaram a usar as grandes bandas de rock internacional, a crítica da época não entendeu o Ave Sangria, não ouviu a guitarra de Ivinho, as boas letras das canções de Marco Polo. O rock nacional teria que esperar até os anos 1980, para engrenar.