Gilberto Gil e Marisa Monte, enfim juntos no mesmo palco

Os dois nunca fizeram um show completo no Brasil
JOSÉ TELES
Publicado em 13/12/2014 às 6:00


Dentro da programação do primeiro dia do Festival da Música Brasileira, acontece um encontro ainda inédito em palcos brasileiros, o do baiano Gilberto Gil com a carioca Marisa Monte. Um encontro que demorou a acontecer em sua plenitude, já que eventualmente os dois se aproximaram em estúdio ou palco. Em palco, cantando juntos, por exemplo, eles já participaram de festivais, o Back2black, em que Marisa Monte foi convidada do show de Gilberto Gil com o senegalês Youssou N’Dour, em 2012. A trinca fechou aquela edição do festival com Blowin in the wind, com uma versão em português, de Gil, tão recente, que ele e Marisa precisam ler a letra na cartolina no chão, ao lado do pdestal do microfone. Em estúdio Gil cantou com Marisa, há vinte anos, no disco Azul, anil, amarelo, rosa e carvão.Porém juntos, um show inteiro, apenas uma vez, e na Alemanha, lembra Gilberto Gil: “Foi uma homenagem a Airton Senna, na época em que Marisa tinha lançado o disco Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão. Fizemos um repertório e coisas que ela vinha cantando, Dança da solidão, Balança pema, músicas minhas, como Extra. Para este show que vamos fazer no Recife, ela sugeriu que fizessemos coisa mais recentes”, adianta Gil, em conversa por telefone, logo depois do ultimo ensaio com a cantora.
O show terá uma homenagem a Luiz Gonzaga, que aniversaria hoje, uma das músicas de Gonzagão que Gil e Marisa cantam é o Xote das meninas (Luiz Gonga/Zé Dantas), gravada por ambos, e uma das preferidas, que a registrou em São João ao vivo (2001), Fé na festa ao vivo (2010), e Gilberto Gil canta Luiz Gonzaga (2012). Marisa, por sua vez, canta o Xote das meninas no seu disco de estréia(1989), e em Barulhinho bom (1996).
De sua geração, Marisa Monte é a artista que mais pôs em práticas as lições do tropicalismo, não apenas pelo amplo leque estética dos seus discos, mas por, sobretudo, reverenciar a Tropicália e os baianos ao longo da sua já longa carreira. De Gilberto Gil ela gravou Cérebro eletrônico e Panis et circenses (parceria com Caetano Veloso): “Ela é muito influenciada por esta minha geração, como nós, eu, Caetano e outros, por Tom Jobim, Vinicius”, concorda Gil, que estende os elogios à preservação da qualidade em toda obra de Maris Monte: “Marisa é cuidadosa, muito ciosa da manutenção de uma boa técnica de excelência, de interpretação, e está continuamente atualizada com o que está acontecendo, como agora com músicos do Nação Zumbi, Nisto ela é parecida comigo, com este xamego com Pernambuco”, diz Gil com a autoridade de ter sido o primeiro grnade nome da MPB a avalizar o manguebeat, dividindo palco e participando de disco do Chico Science & Nação Zumbi.
Porém o Festival da MPB está tão fornido de nomes consgrados da música brasileira, que para muita gente pode passar despercebido o ineditismo da parceria Gil e Marisa. Ineditismo também, em não se curvar ao popularesco para atrair mais público. Festivais de verão são palco para a música do momento, fastfood, com data de validade curta: “Realmente, os artistas deste festival pertencem a um certo nicho da MPB, que se mantém num certo padrão. Segundo Carla (Besoussan), e Flora (Gil), que estão produzindo o evento, há umademanda por este tipo de música”. Uma demanda que deixa o Recife atrás apenas de Rio e Salvador no índice percentual na preferência musical por MPB de qualidade, embora sertanejos ainda sejam a preferência principal do recifense.
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