Nos momentos mais duros ou difíceis, o humor tem um papel duplo: é ele quem nos ajuda a ter alguma leveza em meio à gravidade das situações – guerras, crises, tragédias ambientais – e, ao mesmo tempo, é um dos principais instrumentos de crítica e reflexão. Mais do que apenas revelando piadas, o 2º Salão Internacional de Humor Gráfico de Pernambuco (SIHG-PE) abre suas portas domingo (3/4), na Torre Malakoff, exibindo 120 trabalhos – cômicos, líricos, críticos ou satíricos – de cartum e caricatura. A entrada é gratuita.
Na ocasião, o idealizador e organizador do salão, o cartunista Samuca, vai anunciar os autores vencedores da premiação de R$ 16 mil, divididos entre as duas categorias. Para a sua segunda edição, o evento escolheu o tema dos Direitos Humanos para a categoria de cartuns e, para as caricaturas, o desafio foi o de retratar os pensadores.
“O tema dos direitos humanos é fundamental hoje, ainda mais depois de casos como o do atentado ao Charlie Hebdo, em que ficou muito evidente a intolerância racial e religiosa, por exemplo. A partir disso, pensamos que poderia ser um tema bom para se levar ao salão”, comenta Samuca. “No campo das caricaturas, não queríamos o mesmo tema porque ele convida à repetição – iam ter muitos Mandelas e Gandhis. Falar dos pensadores é uma forma de também sair do reino das celebridades e dos Ronaldinhos.”
O júri é formado por cinco nomes: os brasileiros Carlos Amorim, Cau Gomez e Duke, o mexicano Angel Boligán Corbo e a italiana Marilena Nardi. Cau Gomez, autor de uma caricatura de Naná Vasconcelos, falou sobre os trabalhos, que vieram de mais de 20 países. “Em um mundo com terrorismo e guerras como a da Síria, com conflitos de religiões, pode parecer até difícil fazer humor. No salão, encontramos profissionais que conseguiram revelar com muita técnica, sensibilidade e humor algo que gera uma reflexão no espectador”, avalia. A caricatura de Naná foi uma homenagem feita antes do percussionista pernambucano morrer e faz parte da exposição com obra dos jurados.
Para Amorim, o evento tem uma perspectiva positiva. “Justamente quando há crise e confusão entre as pessoas é que o humor é mais importante. Ele ajuda a esclarecer as coisas. Você consegue mostrar os erros e absurdos dos dois lados no humor sem ser partidário – não sendo isento, mas buscando ser”, aponta. “Afinal, a primeira coisa que se perde numa ditadura é o senso de humor”.
Fazer cartuns e charges hoje também é um desafio. Como lembra Samuca, antes os desenhos circulavam para um público específico, que comprou o jornal ou uma revista. Agora, rapidamente podem circular pelo mundo e para outros contextos. O cartunista Duke analisa que o momento traz uma oportunidade e também algumas confusões.
“A internet ampliou as vozes: todos têm opinião sobre quase todos os assuntos. É uma oportunidade, mas também gera conflitos e debates. Acho que mais do que nunca é importante falar sobre os direitos humanos dentro do universo do humor”, explica. “O salão está com muitos trabalhos bons de diferentes países. O bom de um evento assim é notar que o cartum permite que diferentes culturas – vimos obras da Turquia e da Indonésia, por exemplo – se comuniquem, mesmo que a linguagem seja distante.”