No seu aniversário de 102 anos, Teatro do Parque continua fechado

No seu aniversário de 102 anos, Teatro do Parque continua fechado. Artistas se mobilizam contra inércia do poder público e algumas ações geram esperança
Márcio Bastos
Publicado em 24/08/2017 às 8:00
No seu aniversário de 102 anos, Teatro do Parque continua fechado. Artistas se mobilizam contra inércia do poder público e algumas ações geram esperança Foto: Leo Motta/Divulgação


A Rua do Hospício, no bairro da Boa Vista, já foi um dos principais polos culturais do Recife. Lá está localizado um dos mais importantes equipamentos culturais de Pernambuco, o Cine-Teatro do Parque, espaço que sediou importantes espetáculos teatrais, de dança, de música, exposições e exibições de filmes formou gerações de plateias para a arte. Há sete anos, porém, não há motivos para comemorar. Ao completar hoje 102 anos de história, o Parque está fechado para uma reforma que parece não ter fim e tornou-se símbolo do descaso do poder público com a cultura. Agora, com a mobilização popular e a pressão por sua reabertura, o teatro tem chance de voltar a ser um catalisador do pensamento artístico e cultural da capital pernambucana.

Construído pelo comendador Bento Aguiar, comerciante português, com influências da arquitetura da virada do século 19 para o 20, em estilo art nouveau, o Teatro do Parque é singular no Recife, um espaço de junção de linguagens artísticas desde o princípio. A partir da década de 1959, passou à gestão da prefeitura e as políticas de democratização de acesso, com espetáculos e exibição de filmes e de shows a preços populares, como o Cinema a R$ 1 e o Projeto Seis e Meia, ou até gratuitamente, tornando-o um agregador de diferentes classes sociais.

Fechado em 2010, em meados da gestão de João da Costa, para sanar problemas causados por infiltrações e anos de falta de cuidado, o Parque só teve obras retomadas em janeiro de 2015, no final da primeira gestão de Geraldo Julio. A reforma incluiu, entre outras ações, a troca do telhado do local e de instalações elétricas e hidráulicas, mas foram paralisadas em julho daquele ano. Desde então, o estado do teatro é de completo abandono.

Diante do que aconteceu com o Armazém 14, no Porto do Recife, um dos principais pólos de artes cênicas da cidade, que fechou para reforma e depois reabriu como uma casa de eventos privada, parece ter eclodido um sentimento coletivo de revolta. Pelo Facebook, a articulação por uma virada cultural logo tomou corpo e mobilizou a cena artística. No próximo sábado, haverá um dia inteiro de atividades artísticas gratuitas, a partir das 10h, no entorno e em frente ao equipamento cultural. Vale ressaltar que desde 2010 são feitas ações sistemáticas de protesto, organizadas por coletivos como (RE)Existe Parque e Movimento Guerrilha Cultural.

“O poder público não liga para o Parque. Com o fechamento do teatro, a Rua do Hospício morreu, assim como o entorno. Hoje você olha para a Praça Maciel Pinheiro e vê uma minicracolândia. Então, esse movimento da classe artística, que foi espontâneo, mas também resultado de uma frustração com a forma como a cultura é tratada na cidade, vem como uma forma de resistência a essa política desastrosa”, afirma o ator Diogenes D. Lima, integrante do coletivo que organiza a virada.

No evento de sábado, será lido um manifesto em prol da reabertura do teatro, seguido de apresentações culturais de dança, teatro, música, circo e literatura.

Diante da pressão popular, a Prefeitura do Recife anunciou, terça, que lançará licitação pública no valor de R$ 5,8 milhões, provenientes de recursos próprios, para a segunda etapa das obras físicas. Ao todo, o projeto de reabertura do Parque está orçado em R$ 12 milhões. Serão necessários ainda mais outros dois editais – um para compra de equipamentos e outro para adquirir materiais de uso comum como assentos. E isso requer tempo. Segundo a PCR, a previsão é de que, após o início dos trabalhos, o Parque reabra em 18 meses – ou seja, em meados de 2019.

“Já não acreditamos nesses prazos e promessas, porque a Prefeitura já descumpriu vários. Sempre que há algum anúncio de protesto, eles vão e anunciam que vão agir, para logo em seguida tudo continuar igual. A questão do Teatro do Parque não diz respeito só à classe artística; é uma demanda da sociedade”, reforça Oséas Borba Neto, diretor do grupo João Teimoso.

Hoje, a partir das 5h, faixas de luto e protesto cobrando a reabertura do Parque serão fixadas na Av. Conde da Boa Vista, da altura da Rua do Hospício até o Cinema São Luiz. Às 9h, será realizada audiência pública na Câmara Municipal, com participação de representantes do poder público e da sociedade civil.

TOMBAMENTO

O secretário de Cultura do Estado, Marcelino Granja, acatou ontem duas solicitações de tombamento do Teatro do Parque. Com isso, a edificação, que já é um Imóvel Especial de Preservação, já passa a ser protegido como tal até que seja dado o aval final.

“Agora, será aberto um processo único de tombamento, no qual será feito levantamento técnico, conduzido pela Fundarpe, do histórico do espaço, seu valor arquitetônico e cultural. Depois de tudo instruido, esse material será encaminhado para o Conselho de Preservação do Estado, que após relatório de um de seus conselheiros, será apreciado pelo pleno e deferido. Estamos felizes porque o tombamento reconhece o valor do Teatro do Parque para Pernambuco”, afirma Márcia Souto, presidente da Fundarpe.

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