O sol iluminou as ladeiras e os foliões não arredaram o pé do Sítio Histórico de Olinda nesta terça, último dia no calendário oficial, embora hoje ainda haja bacalhau no Alto da Sé e shows no Polo Chico Science, no bairro de Rio Doce. Quem não vai poder participar dessas brincadeiras lamentava apenas a chegada da “quarta-feira ingrata” e já fazia as contas para o sobe e desce em todos os ritmos no ano que vem. Em 2019, o Sábado de Zé Pereira será no dia 2 de março, a exatos 381 dias, contados a partir desta quarta-feira.
Um grupo de seis amigos que brincava pelas ruas do Centro Histórico de Olinda estava entre os que faziam os cálculos para a festa do próximo ano. A maioria volta ao trabalho hoje, mas a cabeça já está no Carnaval de 2019. “Eu vou dar uma esticada na festa. Ainda tem mais um pouco de gás para soltar aqui nas ladeiras. Já estou ansiosa para o que vem. Até lá, a gente vai brincando esse restinho de 2018”, afirmou a turismóloga Roberta Galvão, 37 anos, moradora de Olinda.
Nem todo mundo que gosta de Carnaval estava nas ladeiras. Teve gente que acompanhou tudo de casa mesmo. Foi o caso da aposentada Ivanilda Alves, 85. Natural de Igarassu e moradora de Olinda há 70 anos, ela disse não ter mais saúde para brincar, mas nem por isso deixa de ver o vai e vem dos blocos no Largo do Amparo. Com as mãos apoiadas na janela de casa, a experiente foliã resumiu em saudade a chegada da quarta-feira.
“Essa é a melhor festa do ano, mas se o povo soubesse brincar seria muito melhor. No meu tempo não tinha essas brigas todas que têm hoje. Eu já subi e desci muito essas ladeiras. Hoje não tenho mais saúde, aí fico aqui só observando da minha janela. E já estou aqui pensando na festa do ano que vem”, disse. A paixão pelo Carnaval está impregnada na família de dona Ivanilda, que é mãe de Luiz Adolpho, o presidente do Clube de Alegoria e Crítica Homem da Meia Noite.
A poucos metros dali, no Largo do Guadalupe, no Polo Cariri, grupos de afoxé deram um toque religioso à festa. Quem esteve por lá foi Mãe Beth de Oxum, 54 anos e integrante do Afoxé Babá Orixalá. “Nós temos uma diversidade muito grande. O povo negro tem participação importantíssima na cultura e na religiosidade não só de Pernambuco, mas do Brasil. Acho fundamental esses eventos que protagonizam a cultura negra. Nós somos ainda muito satanizados e convivemos com muita intolerância. O Carnaval é um momento de respeito”, explicou.