Obras sobre roubos mirabolantes, quase impossíveis, ainda provocam fascínio. Tome-se como exemplo o sucesso de La Casa de Papel, série em exibição na Netflix, que se tornou um fenômeno cultural. Ou ainda o hype que cerca o lançamento de Oito Mulheres e Um Segredo, filme que estreia hoje nos cinemas brasileiros e revive a franquia estrelada por George Clooney, Matt Damon, Brad Pitt e outros astros hollywoodianos, porém com um elenco majoritariamente feminino. Desta vez, o grupo de assaltantes é liderado por Sandra Bullock, que reúne uma equipe de notáveis, como Cate Blanchett, Helena Bonham-Carter, Rihanna e Anne Hathaway.
No filme, Bullock interpreta Debbie Ocean, irmã de Danny Ocean, personagem interpretado por Clooney na trilogia dos anos 2000. Na primeira cena, sabe-se que ela passou os últimos cinco anos na cadeia e está no processo para pedir a liberdade condicional. O discurso de que está transformada e que cometeu seu crime porque foi enganada pelo homem que amava – e mais, que não tem nada a ver com a vida bandida de seu irmão – é logo desconstruído quando, enquanto pega seus pertences na saída do presídio, já começa a dar pequenos golpes.
Durante o período encarcerada, ela bolou maneiras de colocar em execução um ambicioso plano de roubo, cujo lucro será de 150 milhões de dólares. Logo, ela passa a juntar sua equipe, a começar por sua amiga e parceira de golpes Lou (Blanchett). O objetivo: roubar um raríssimo colar de diamantes, guardado 15 metros abaixo do solo. Como elas pretendem colocar as mãos na joia? Levando-a para a superfície.
O plano é o seguinte: Debbie e Lou farão com que a it girl Daphne Kluger use o colar no Met Gala, festa mais exclusiva dos EUA que acontece anualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque, e reúne celebridades do cinema, moda, música, entre outros. Para isso, se unem à estilista falida Rose Weil (Bonham-Carter); à joalheira Amita (Mindy Kaling); à hacker Bola Nove (Rihanna); à trambiqueira Tammy (Sarah Paulson), hoje uma dona de casa mãe de dois filhos; e à ladra Constance (Awkwafina).
Oito Mulheres e Um Segredo é um filme heist, subgênero que acompanha o desenvolver de uma ação criminosa, sua concepção, desenvolvimento, execução e o pós. A grande sacada da obra é justamente colocar um elenco exclusivamente feminino à frente da empreitada. De forma descontraída, brinca com os preconceitos de gênero (em Onze Homens e um Segredo, o único papel feminino de destaque é de Julia Roberts e, ainda assim, como interesse amoroso de Clooney).
O protagonismo feminino vem a calhar em um momento em que Hollywood passa por uma reestruturação após os escândalos de assédio e abuso sexual que expôs o comportamento misógino de diretores, atores e produtores. Com produção de Bullock, o filme dá várias alfinetadas na questão, como o fato de Debbie querer uma equipe só com mulheres porque “ninguém as nota”, ou ainda quando ela motiva suas parceiras dizendo que elas não estavam cometendo o crime por elas, mas sim por todas as garotinhas de oito anos que sonham em ser criminosas e acham que não podem. Nesse sentido, parece contraditório que o filme seja dirigido por Gary Ross, um homem.
O elenco, no entanto, está em sintonia. Todas têm chance de brilhar, apesar de Hathaway, Bonham-Carter e Kaling roubarem a cena.
O longa segue a cartilha dos filmes à risca e fica a impressão de que, com tanto talento reunido, poderia ter ido um pouco além. Ainda assim, diverte e tem sacadas inteligentes, mesmo que o roubo em si não ofereça grandes tensões. Acima de tudo, a representatividade que ele traz tem o potencial de abrir novos espaços para as mulheres em blockbusters similares.