Os rompimentos das barreiras de Brumadinho, em janeiro deste ano, e de Mariana, em 2015, expuseram os aspectos mais brutais da mineração no Brasil. O problema não atinge só o País, mas a extração de minérios tem implicações profundas aqui desde o tempo da colonização. Minas, exposição que é aberta hoje na Galeria Vicente do Rego Monteiro, na Fundaj/Derby, se debruça sobre o assunto a partir de olhares múltiplos de artistas contemporâneos, assim como de documentos históricos.
O curador Moacir dos Anjos conta que a ideia de refletir sobre o tema se fortaleceu a partir de Brumadinho, da reincidência de uma tragédia. Seu recorte, porém, não são os desastres, mas, a partir deles, tenta pensar as implicações da mineração desde o século 18, com o ciclo do ouro, traçando também paralelos com outros locais onde a atividade é exercida de maneira predatória, como na Bolívia e na África do Sul.
“O noticiário está saturado das imagens da tragédia, inclusive promovendo uma banalização da morte. Me interessou mais lançar luz sobre as implicações da mineração como um gerador de desigualdades, de violências contra a saúde das pessoas e do meio ambiente. A mineração tem e teve sua importância para o país, inclusive na arte, se pensarmos o Barroco, por exemplo, mas foi consolidada a partir de uma visão desenvolvimentista que se mede pelo lucro e não pelos custos, o impacto que causa na sociedade”, explica.
Para desenvolver este panorama, Moacir buscou artistas que investigassem o tema em seus trabalhos, como Claudia Andujar, Harun Farocki, João Castilho, Johan Moritzl, Rugendas (alemão que no século 19 retratou a região de Minas Gerais); José Rufino, Júlia Pontés, Mabe Bethônico, Pedro David e William Kentridge.
A exposição reúne fotografias, vídeos, um objeto escultura, além de textos do curador e de Carlos Drummond de Andrade, que permeiam a mostra. O poeta nasceu em Itabira, cidade que se desenvolveu a partir da atividade de extração de minérios e denunciou os desmandos da Vale do Rio Doce a partir dos anos 1970.