Na Cultura, Regina Duarte enfrentará orçamento reduzido e colapso na Ancine

A atriz vai iniciar um período de "teste" à frente da Secretaria da Cultura do governo federal
Estadão Conteúdo
Publicado em 22/01/2020 às 8:18
A atriz vai iniciar um período de "teste" à frente da Secretaria da Cultura do governo federal Foto: Foto: Reprodução/Twitter


Se aceitar o comando da Secretaria Especial de Cultura do governo Jair Bolsonaro, a atriz Regina Duarte enfrentará orçamentos reduzidos e um cenário que beira o colapso em alguns dos órgãos que ficarão sob o seu guarda-chuva. Uma radiografia na pasta feita por atuais e ex-integrantes da secretaria aponta que uma das piores situações está na Agência Nacional do Cinema (Ancine). Estudo interno da agência afirma que as unidades de fomento estão operando "em estado crítico".

No documento, enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU), o órgão argumenta que teria de contratar mais 184 servidores e reduzir drasticamente os recursos liberados, distribuindo 10% do fomento indireto (via Lei Rouanet e outros incentivos fiscais) e 20% do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) em relação ao patamar atual. Essas medidas seriam necessárias para equilibrar em quatro anos a avaliação de novos processos de financiamento que chegam à Ancine e vencer uma fila superior a 4 mil análises de obras que já receberam recursos. O documento é de meados de 2019, mas, segundo a reportagem apurou, o cenário pouco se alterou desde aquela época.

A dificuldade operacional da Ancine ainda faz com que o número de deliberações de processo por ano caia, mas a fila de análises pendentes cresça. Em 2017, havia 1.816 casos a serem analisados - e apenas 232 concluídos. Já em 2019, a fila subiu para 4.164, mas apenas 23 processos foram conferidos pelos servidores. Na cúpula do órgão, metade das quatro cadeiras de diretores está ocupada, sendo que um dos nomes é substituto. O presidente da agência, Alex Braga Muniz, também ocupa o cargo interinamente desde que Christian de Castro Oliveira foi afastado pela Justiça

Para Henrique Pires, o primeiro secretário de Cultura no governo Bolsonaro, uma das primeiras medidas do novo chefe da pasta deve ser reestruturar a agência.

"A estrutura da cultura, quando funciona, tem impacto econômico muito grande. Se trava, as pessoas não têm atividade econômica. É preciso calibrar a máquina", afirmou ex-secretário.

Orçamento

Os recursos reservados para a área de Cultura no Orçamento deste ano também foram reduzidos. Serão R$ 320 milhões ao todo. Para fins de comparação, no Orçamento de 2019, elaborado quando a Cultura ainda tinha status de ministério na estrutura do governo, o valor destinado foi de R$ 2 bilhões.

Apesar do aperto, a pasta trabalha para a liberação de R$ 438 milhões do Fundo Nacional da Cultura que estão contingenciados. A ideia é que os valores sejam usados para conseguir empréstimos com bancos, mas ainda exige que "seja criado um regramento e definido um ou mais agentes financeiros", afirma a Secretaria Especial de Cultura.

Alguns órgãos, como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), dependerão exclusivamente de emendas parlamentares para investimentos. O orçamento do órgão é 67% menor em 2020, de R$ 73 milhões, voltados para ações de preservação do patrimônio e obras, mas nada previsto para investimento.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a cúpula do instituto ainda está mapeando o que terá de ser revisto com orçamento mais baixo, mas já sabe que terá de interromper boa parte das cerca de 100 obras em andamento pelo País em prédios históricos e sítios arqueológicos. Bolsonaro já indicou também que pode esvaziar as funções do Iphan pelo poder do órgão de embargar obras.

Na Fundação Cultural Palmares, a principal indefinição é sobre a escolha de novo presidente. Alvim tentou emplacar no cargo o jornalista Sérgio Camargo, mas a Justiça suspendeu a sua nomeação. Ele foi alvo de críticas ao afirmar, por exemplo, que existe um "racismo nutella" no Brasil e que não daria suporte ao Dia da Consciência Negra.

Outra situação delicada está na Fundação Casa de Rui Barbosa. Pesquisadores têm protestado por exonerações e dispensas anunciadas pela presidente do órgão, a jornalista e roteirista de TV Letícia Dornelles. Ela nega o "desmonte do setor de pesquisa" e diz ainda que "quem espalha esse tipo de futrica só quer tumultuar". Além da disputa de poder, a sede da fundação tem problemas estruturais com dutos de água e esgoto que podem estourar - o órgão chegou a entrar na Justiça para pedir o conserto.

Na Fundação Biblioteca Nacional, o acervo enfrenta a falta de investimentos de atualização e preservação. A fundação é presidida por Rafael Nogueira, escolhido por Alvim, olavista e simpatizante da monarquia. Recentemente, a casa passou por uma reforma orçada em R$ 10 milhões, valor inferior ao de muitos livros guardados em suas estantes de aço e jacarandá.

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