Dezoito meses depois dos "Panama Papers", relacionados com fraudes fiscais, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), que reúne 96 meios de comunicação de 67 países, começou a divulgar os "Paradise Papers". Entre as 127 personalidades internacionais citadas no novo escândalo, estão a rainha Elizabeth II, a cantora Madonna, e Bono, vocalista da banda irlandesa U2.
A entidade usou como base o vazamento de 13,5 milhões de documentos financeiros, procedentes fundamentalmente de um escritório internacional de advocacia com sede nas ilhas Bermudas, Appleby, obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung. Os circuitos utilizados pelos mais ricos e pelas empresas multinacionais para colocar seus recursos em paraísos fiscais não são ilegais. Graças a brechas na regulamentação, permitem a seus beneficiários pagar muito menos impostos.
No Reino Unido, quase 10 milhões de libras esterlinas da rainha Elizabeth II foram colocados em fundos nas ilhas Cayman e Bermudas, segundo a BBC e o jornal The Guardian. Os fundos da rainha colocados nas ilhas Cayman e Bermudas foram gerados pelo ducado de Lancaster, domínio privado da soberana e fonte de sua renda.
"Todos os nossos investimentos passam por auditorias e são legítimos", disse à AFP a porta-voz do ducado de Lancaster. Ela disse que os investimentos em fundos no exterior representam apenas 0,3% do valor total do ducado. O líder da oposição trabalhista britânica, Jeremy Corbyn, denunciou no Twitter que existe "uma regra para os super-ricos e outra para os demais quando se trata de pagar impostos".
Já Madonna investiu em ações de uma "companhia de suprimentos médicos", registrada em 1997 e dissolvida em 2013, nas ilhas Bermudas, outro paraíso fiscal. Bono, por sua vez, usou uma empresa com sede em Malta para pagar por uma participação em um centro comercial da Lituânia e driblar a cobrança de impostos.
Também foram citados na lista o secretário de comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, e Stephen Bronfman, que cuida do dinheiro do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeu. Wilbur Ross, reputado homem do setor financeiro, reduziu sua participação na empresa incriminada Navigator Holdings ao assumir o cargo em janeiro, mas ainda controla 31% de seu capital através de companhias offshore.
Stephen Bronfman, magnata canadense, depositou, ao lado de seu mentor Leo Kolber, quase 60 milhões de dólares em uma empresa offshore em Cayman, segundo o Toronto Star. Este amigo do primeiro-ministro Justin Trudeau e diretor financeiro da campanha do governante Partido Liberal do Canadá nas eleições de 2015 pode virar um peso para o chefe de Governo, eleito com promessas de redução das desigualdades e de justiça fiscal.