A autora Glória Perez publicou, nas redes sociais, um texto intitulado A Emenda Popular sobre a mobilização para incluir o homicídio qualificado entre os crimes hediondos. Neste 28 de dezembro, o assassinato da filha de Glória, Daniella Perez, completa 25 anos. A jovem foi morta com golpes de tesoura aos 22 anos, pelo parceiro de cena na novela De Corpo e Alma Guilherme de Pádua, que recentemente virou pastor. "25 anos é menos que 25 dias, que 25 horas, que 25 segundos. Filho não se conjuga no passado!", escreveu Glória Perez.
"Em 1992, as leis penais eram ainda mais frouxas. Matar não dava cadeia: assassinos tinham direito de esperar, em liberdade, por um julgamento que podia ser adiado indefinidamente - bastava ter advogados que soubessem explorar as brechas da lei e utilizar o número infinito de recursos disponíveis para atrasar o andamento dos processos. A não ser que o crime cometido estivesse elencado na Lei dos crimes hediondos, promulgada em 1990, que listava crimes que deviam ser levados a sério. Para estes, tidos como os mais graves, a prisão era imediata e não se admitia pagamento de fiança", continua Glória.
Glória lembra que, redigida a emenda, ela e outras mães que também haviam perdido seus filhos na mesma condição, organizaram um abaixo assinado. "Gente de todo o país escrevia, pedindo as listas, que eram passadas em repartições, escolas, shows, nas ruas mesmo. E chegavam a nos pelo correio", continua a autora.
Em três meses, foram reunidas 1.300.000 assinaturas e o abaixo assinado foi levado ao Congresso. "Lá, não foi fácil o percurso: e na última sessão do ano, tão logo foi anunciada a votação da emenda, assistimos o plenário esvaziar-se, no claro intuito de impedir a votação, por falta de quorum. Senadores saíam de fininho, passavam sem nos encarar, ignorando nossos apelos para que ficassem. Não houve quorum. Mas houve um senador de coragem: Humberto Lucena, então presidente do Senado, enquadrou a emenda como urgência urgentíssima. Assim, o homicídio qualificado foi incluído na Lei dos crimes hediondos".
"Foi uma campanha de mães, uma campanha encabeçada por mães que haviam perdido seus filhos: Jocélia Brandão (de Minas, mãe da Miriam Brandão), as mães de Acari, as vítimas de Vigário Geral, a Valéria Velasco, de Brasilia, e tantas outras! a mudança não teria nenhuma interferência no caso dos nossos filhos, uma vez que a lei não retroage para punir. Mas é graças a essa emenda que criminosos como Suzanne Richtofen, o casal Nardoni, e tantos outros, ainda estão na cadeia. Não fosse isso, já estariam rua há muitos anos", opina.