Feministas criticam Catherine Deneuve por defender o assédio masculino

Trinta feministas condenaram o manifesto publicado no jornal francês Le Monde nesta terça-feira (9) que defende os homens alvo de acusações de assédio
AFP
Publicado em 10/01/2018 às 11:23
Trinta feministas condenaram o manifesto publicado no jornal francês Le Monde nesta terça-feira (9) que defende os homens alvo de acusações de assédio. Foto: Foto: AFP


Militantes feministas francesas reagiram nesta quarta-feira (10) à defesa feita por um grupo de cerca de cem mulheres, entre elas a atriz Catherine Deneuve, ao direito dos homens de "importunar", acusando-as de desprezar as vítimas de violências sexuais.

"Cada vez que se avança para a igualdade, apesar de meio centímetro que seja, há almas boas que imediatamente alertam que podemos cair no excesso", afirmam as signatárias de um texto postado no site francetvinfo.

Esse texto é uma resposta à manifestação divulgada na véspera no jornal francês Le Monde, no qual um grupo de mulheres alerta contra uma volta ao "puritanismo" como uma das consequências do escândalo do produtor de cinema americano Harvey Weinstein.

"Na França, todos os dias, milhares de mulheres são vítimas de assédio. Milhares de agressões sexuais. E centenas de estupro", recordam o novo grupo formado por cerca de trinta mulheres, entre elas a militante Caroline de Haas e várias jornalistas.

Para elas, as mulheres que assinaram o texto publicado no Le Monde, "misturam deliberadamente uma relação de sedução baseada no respeito e prazer com a violência".

Consideram que a maior parte das personalidades citadas no jornal francês são "reincidentes em termos de defesa de criminosos pedófilos ou apologia do estupro e utilizam sua visibilidade midiática para banalizar a violência sexual", além de "desprezar o fato de que milhões de mulheres sofram ou tenham sofrido este tipo de violência".

Polêmica envolvendo Deneuve

Em março passado, Deneuve, de 74 anos, gerou polêmica ao defender na televisão o cineasta Roman Polanski, acusado de ter estuprado uma menor há mais de 40 anos nos Estados Unidos, e assegurar que o cineasta certamente não sabia que a jovem tinha 13 anos.

"Sempre gostou de meninas novas. Sempre achei que a palavra estupro era excessiva", afirmou Deneuve.

"Com este texto tentam voltar a impor o tabu que começamos a levantar. Não conseguirão", enfatizaram as signatárias do novo protesto.

Referindo-se ao movimento que nasceu na França #Balancetonporc ("Delate teu porco", similar ao #MeToo), o grupo concluiu que "os porcos e seus aliados têm motivos para se preocupar. Seu velho mundo está a ponto de desaparecer".

"Onda purificadora"

O grupo do qual Deneuve, além de alertar para o "puritanismo" que se instalou após o caso Weinstein, considera ainda "legítima a conscientização sobre a violência sexual exercida contra as mulheres, sobretudo no âmbito profissional". 

Mas, também afirmam, "esta libertação do discurso se transforma hoje no contrário: somos intimadas a falar como se deve, a silenciar o que irrita, e aqueles que se recusam a cumprir tais injunções são considerados traidores, cúmplices!"

Há homens que foram "sancionados no exercício de sua profissão, obrigados a se demitir, quando seu único erro foi ter tocado um joelho, tentado ganhar um beijo, falar de coisas 'íntimas' durante um jantar profissional, ou ter enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia uma atração recíproca", asseguram, falando de uma "onda purificadora".

"Enquanto mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo", afirma o coletivo, acrescentando que defende "uma liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual".

Reações

O artigo considerado antifeminista provou reações no mesmo dia de sua publicação.

Em um tuíte, a ex-ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, lamentou "esta estranha angústia de deixar de existir sem o olhar e o desejo dos homens, que leva mulheres inteligentes a escrever enormes asneiras".

"Este é um artigo para defender o direito de agredir sexualmente as mulheres e para insultar as feministas", denunciou ainda Caroline de Hass.

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