Bar de boêmia deve ter dono enfezado e bom bebedor. Não carece cardápio sofisticado, muito menos diversificado. Os fregueses estão ali para beber, não para se alimentar. O bar do Valdemar, oficialmente International Drinks, que funcionava na Alfredo Lisboa, vizinho ao bar 28, é um clássico da boêmia da capital pernambucana que continua funcionando. Ambos dos melhores que o Recife já teve. Valdemar Tavares de Araújo, no registro de nascimento, e Valdemar Marinheiro para sua freguesia, completaria cem anos nesta segunda-feira (04).
Tendo à frente o advogado Paulo Henrique Maciel, uma turma de boêmios veteranos se encontra hoje para celebrar o boêmio Valdemar Marinheiro, com um almoço no 28. “Quem costumava ir lá era Silvio Caldas. Foi a primeira vez, apaixonou-se pelo bar, e virou freguês. Uma noite, depois de uns oito uísques, levantou-se e cantou, a capela, Recife, Cidade Lendária, de Capiba”, relembra o advogado Paulo Henrique Maciel, militante de esquerda nos anos 60, que começou a frequentar o bar em 1970.
Outro freguês assíduo do Valdemar, também advogado, jornalista e escritor, Arthur Carvalho, numa crônica de 2007, quando morreu Valdemar, fez uma descrição minuciosa do bar: “Típico botequim do cais do porto, frequentado, a partir do meio-dia, por jornalistas, intelectuais, políticos, policiais, advogados, magistrados, comerciantes, executivos, notívagos”. Entre os notívagos, algumas mulheres, profissionais dos cabarés do bairro do Recife. “De Prostituta, só três ele permitia que frequentassem o bar, as institucionais”, diz Paulo Henrique Maciel.
“Eu nunca vi ninguém fazer amizade bebendo leite”, é uma das frases lapidares atribuídas a Valdemar Marinheiro que, garantem os fregueses, entornava, em média, 28 doses de uísque por expediente, que se estendia até o último freguês. Com ele não havia polarização, o Valdemar tinha mesas para comunistas, socialistas, reacionários e anarquistas.Esquentado, não lhe perguntassem a origem do uísque que vendia: “Só há três maneiras de comprar uísque. No comércio, no contrabando, ou falsificado”, respondia, curto e grosso