O governo argentino acusou nesta quinta-feira a American Airlines de gerar incerteza ao suspender a venda de passagens para um prazo superior a 90 dias, no momento em que cresce o abismo cambial no país.
"Agora querem assustar os argentinos que pretendem viajar ao exterior, que não são poucos" - escreveu a presidente Cristina Kirchner antes de viajar para Roma, onde no sábado será recebida pelo Papa Francisco no Vaticano.
Kirchner atribuiu à decisão da American Airlines a um suposto plano dos fundos especulativos que lutam contra a Argentina na justiça dos Estados Unidos, e também vinculou a medida ao aumento do dólar no mercado paralelo, cuja cotação é quase 80% superior ao dólar oficial.
A American Airlines limitou a 90 dias a venda antecipada de passagens de voos procedentes ou para Buenos Aires.
"Abutres com turbinas. Abutres locais, como sempre, sem turbina nem remédio. Voam muito baixo (...) neste ataque especulativo sobre nossa moeda".
Segundo operadores turísticos, a medida é motivada pelas restrições de acesso ao mercado de câmbio adotadas pelo governo, já que as companhias aéreas recebem em pesos e precisam convertê-los em dólares.
A American Airlines detém 30% do mercado de voos entre Argentina e Estados Unidos, enquanto a estatal Aerolíneas Argentinas responde por 16%.
O ministro da Economia, Axel Kicillof, disse na véspera que a Argentina "está diante de um ataque especulativo contra o peso" e garantiu que certas medidas "têm a intenção de gerar pânico".
Nesta quinta-feira, o Congresso argentino aprovou uma lei que regula os preços e a produção, como estratégia de combate à inflação, o que provocou severas críticas de empresários do país.
De acordo com a nova lei, o governo poderá fixar margens de preços de referência, assim como aplicar sanções a quem remarcar injustificadamente os preços, monopolizar mercadorias ou se negar a vender produtos.
As empresas que descumprirem a lei poderão sofrer multas de até 10 milhões de pesos (1,18 milhão de dólares), que deverão ser pagas antes de apresentar recurso, podem ser fechadas por até 90 dias ou desabilitadas por dois anos, com necessidade de autorização judicial.
Ficam excluídas as pequenas e médias empresas "que não tenham posição dominante no mercado".
O governo argentino luta para conter a inflação, que chegou a 18,2% entre janeiro e agosto - segundo dados oficiais - e supera os 30% - de acordo com a oposição.