O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, deu uma clara sinalização ontem de que a instituição está disposta a “aumentar a pressão” e expandir seus programas de compras de ativos se a inflação da zona do euro não retornar à meta. “Vamos continuar a cumprir nossa responsabilidade”, disse Draghi, em discurso numa conferência bancária.
“Faremos o que for preciso para elevar a inflação e as expectativas de inflação o mais rápido possível, como exige nosso mandato de estabilidade dos preços.”
Segundo Draghi, se a atual trajetória da política do BCE não for suficiente ou se surgirem novos riscos à perspectiva da inflação “vamos aumentar a pressão e ampliar ainda mais os canais pelos quais intervimos, alterando o tamanho, o ritmo e a composição de nossas compras”. Em outubro, a inflação anual da zona do euro foi de 0,4%, bem abaixo da meta do BCE, que é de taxa ligeiramente inferior a 2,0%.
Nos últimos meses, o BCE tem respondido aos riscos da inflação muito baixa reduzindo as taxas de juros aos menores níveis da história, emitindo empréstimos bancários baratos com vencimento de quatro anos e iniciando programas de compra de bônus cobertos e títulos lastreados em ativos (ABS, na sigla em inglês). Muitos analistas esperam que o BCE tome medidas mais drásticas, que poderão incluir compras em larga escala de bônus, no começo do próximo ano.
Draghi disse ainda que é essencial trazer a inflação de volta à meta “sem atraso” e ficar “bem atento” para que os preços baixos não permeiem a economia da zona do euro. “A política monetária (política de juros) pode e vai fazer sua parte para atingir isso”, afirmou, acrescentando que são necessárias outras medidas fora das responsabilidades da instituição, como política fiscal (política de arrecadação e de gastos) para impulsionar a demanda.
Draghi também afirmou que, no longo prazo, as expectativas de inflação futura continuam ancoradas perto do nível que o BCE considera consistente com a meta. “No período mais curto, entretanto, os indicadores têm declinado para níveis que eu considero excessivamente baixos”, disse.
Obstáculo
Para Jens Weidmann, membro do conselho do BCE, a falta de uma grande reforma estrutural é um obstáculo maior para o crescimento econômico na Europa do que as condições de financiamento auspiciosas, sugerindo que mais medidas de estímulo monetário podem ser inúteis se não forem complementadas com programas governamentais de reforma.
“Serão necessárias mais do que apenas condições favoráveis de financiamento para estimular o crédito”, disse Weidmann, que também preside o Banco Central da Alemanha. “É muito mais importante melhorar as perspectivas de receita no longo prazo de empresas não financeiras. E também é importante melhorar a sustentabilidade das perspectivas de emprego. Ambos objetivos só podem ser atingidos por meio de reformas estruturais que impulsionam a competitividade e o potencial de crescimento das economias.”