O dólar fechou em queda pelo terceiro dia nesta quinta-feira (14), guiado por dados piores que o esperado nos Estados Unidos, que voltaram a alimentar a expectativa de que o Federal Reserve (banco central americano) possa demorar mais tempo para começar a subir os juros naquele país.
No mercado à vista, referência para operações financeiras, o dólar teve desvalorização de 0,61% sobre o real, cotado em R$ 3,002 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, recuou 1,41%, para R$ 2,994.
"A presidente do Fed [Janet Yellen] já disse que, uma vez iniciado o processo de elevação dos juros, a autoridade não voltará atrás. Sendo assim, ao meu ver, o Fed deve esperar mais um pouco antes de dar esse passo, já que os indicadores que têm sido divulgados nos EUA mostram dados mistos. Um aumento na reunião de junho ou julho é improvável", afirmou João Medeiros, diretor de câmbio da Pioneer Corretora.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias.
A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima, por isso a possibilidade de um aumento mais distante no juro reduz a pressão no mercado cambial nesta quinta (14).
"Mesmo assim, o mercado já está precificando os juros de dez anos nos EUA com taxa de 2,25%, antecipando o que inevitavelmente vai acontecer mais cedo ou mais tarde", disse Medeiros. "Os sinais que o Fed tem dado indicam que a alta da taxa deve ficar para a segunda metade do ano."
Na agenda americana, o índice de preços ao produtor em abril ficou em -0,4% ante expectativas de 0,2%. O dado ofuscou os pedidos de auxílio-desemprego, que caíram de 265 mil para 264 mil, segundo números ajustados sazonalmente, na comparação entre as semanas encerradas em 2 e 9 de maio, nesta ordem.
Na véspera, números fracos sobre o varejo dos EUA no mês passado já haviam alimentado expectativas de que o Fed deverá postergar o aumento de juros naquele país.
A sequência de quedas do dólar, segundo Tarcisio Rodrigues, diretor de câmbio do Banco Paulista, pode motivar novas alterações no volume de intervenção do Banco Central do Brasil no câmbio. "Se a moeda americana cair para muito menos de R$ 3, o BC deve reduzir suas atuações, como fez no início deste mês", disse. "A autoridade já mostrou que esse patamar é confortável tanto para as exportadoras quanto para a inflação no país."
Nesta quinta-feira (14), a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 394,3 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões.
AÇÕES EM ALTA
No mercado acionário, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, acompanhou o bom humor externo e subiu 0,5%, para 56.656 pontos. O volume financeiro foi de R$ 6,525 bilhões. O indicador de vendas no varejo divulgado pela manhã desta quinta (14) veio fraco, e afetou negativamente as ações do setor, o que amenizou o ganho do índice.
"Somado a isso, alguns papéis importantes do Ibovespa, que haviam começado o dia no azul, acabaram perdendo força durante a tarde e fecharam o pregão em queda, como a Petrobras. Esses papéis já vinham de altas recentes e sofreram um ajuste natural, com investidores embolsando lucros", disse Henrique Florentino, analista da Um Investimentos.
Após subirem mais de 1,5% durante o dia, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, encerraram a sessão com baixa de 0,57%, para R$ 13,89 cada uma. Os investidores estão na expectativa pelo balanço da estatal referente ao primeiro trimestre deste ano, que será divulgado na sexta-feira (15).
Os bancos, setor com maior peso dentro do Ibovespa, fecharam no azul, com exceção do Banco do Brasil. O Itaú Unibanco ganhou 0,98%, para R$ 38,01, enquanto a ação preferencial do Bradesco subiu 2,43%, para R$ 31,62. O Santander valorizou-se 1,28%, a R$ 17,47. Na contramão, o Banco do Brasil recuou 3,85%, para R$ 25,96.
O maior banco público do país viu seu lucro subir 117,3% no primeiro trimestre, na comparação com igual período do ano passado, para R$ 5,818 bilhões. O resultado divulgado nesta quinta também mostra que, apesar do aumento no lucro, o BB elevou suas despesas com provisões para perdas com calotes a R$ 5,999 bilhões entre janeiro e março, um salto de 43,3% sobre o primeiro trimestre de 2014.