O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, afirmou nesta segunda-feira (29) que o quadro de redução do desemprego, com taxas de desocupação no piso histórico, não deve perdurar nos próximos trimestres. A fala ocorreu ao final da apresentação feito por causa do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Hamilton explicou que o BC não faz previsões para taxa de desemprego, mas disse que "em linha com o ciclo econômico, o mercado de trabalho deve passar por uma correção nos próximos trimestres".
REPASSE DE CÂMBIO - Hamilton defendeu que o cenário desenhado pela instituição não está defasado em função do câmbio hoje e o da data de corte do documento, em 5 de setembro. Ele admitiu que o repasse do movimento do dólar para a inflação existe e disse que, se no Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de dezembro a divisa norte-americana estiver ainda acima de R$ 2,40, as projeções serão revisadas.
"Nós entendemos que o repasse do câmbio para a inflação hoje é bem menor do que era há 15 anos", disse Hamilton. "Além desse aspecto, a evidência do repasse depende do tamanho da variação da taxa de cambio, de como esse repasse é percebido pelos agentes e da posição da economia no ciclo econômico", observou.
POLÍTICA FISCAL - Hamilton admitiu pela primeira vez que a política fiscal será expansionista em 2014. Ele afirmou que a hipótese de neutralidade, do ponto de vista da inflação, não deve se confirmar, sinalização que já havia sido dada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Ele ainda afirmou que a dinâmica da política fiscal levou a condições financeiras mais apertadas e a uma perda de confiança dos agentes de mercados. Para 2015 e 2016, no entanto, ele avalia que as evidências apontam para uma política fiscal mais neutra. "A política fiscal, no próximo ano, é mais importante do ponto de vista de fortalecer a confiança dos agentes do que para conter os desequilíbrios de demandas e oferta", ponderou.
Hamilton afirmou que a população sente mais a alta dos preços do que uma possível política expansionista do lado fiscal pelo governo. "Acho que o que dói mais é inflação alta", afirmou. "É importante que a gente trabalhe para trazer a inflação para a meta e ponto", continuou. O diretor afirmou que a instituição seguirá atenta para a evolução do cenário para a inflação e que agirá "tempestivamente" se o cenário assim exigir.
Questionado se o BC não vê mais a meta de superávit primário (1 9% do PIB) sendo atingida, disse que isso deveria ser perguntado para as autoridades fiscais e que o BC foca apenas no superávit estrutural.