As medidas fiscais anunciadas na segunda-feira (19) pelo ministro Joaquim Levy (Fazenda) foram recebidas com otimismo pelo mercado financeiro, com a avaliação de que o governo vai promover os ajustes necessários para restaurar sua credibilidade perante os investidores e evitar o rebaixamento da nota de crédito do país.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou nesta terça-feira (20) em alta de 0,25%, a 47.876 pontos. Das 68 ações negociadas, 33 subiram, 31 caíram e quatro se mantiveram inalteradas. O volume financeiro no pregão foi de R$ 5,41 bilhões, bem abaixo da média do mês de janeiro, que é de R$ 6,37 bilhões até o dia 19.
O índice chegou a subir quase 2%, mas perdeu força após a abertura do pregão nos Estados Unidos, com os investidores demonstrando preocupação com relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) que cortou a projeção de avanço da economia global para 3,5% em 2015 e 3,7% em 2016.
As medidas fiscais anunciadas por Levy na segunda-feira (19), porém, conseguiram manter a Bolsa brasileira em território positivo nesta terça (20).
O ministro detalhou uma série de aumentos de impostos, que deve incrementar o caixa do governo em R$ 20 bilhões neste ano.
O pacote incluiu a volta da Cide (tributo regulador do preço de combustíveis), zerada desde 2012, e aumento do PIS/Cofins sobre a gasolina. A alta da tributação de combustíveis representará uma arrecadação extra de R$ 12,2 bilhões, avaliou o secretário da Receita, Jorge Rachid.
A alta nos impostos sobre a gasolina será de 22 centavos sobre o litro, e de 15 centavos para o litro do diesel, somando Cide e Pis/Cofins.
"O mercado entendeu que o ministro está operando com um pouco mais de autonomia e que está comprometido com os ajustes econômicos que o país exige no momento", afirma Henrique Florentino, analista da UM Investimentos.
Para Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos, corretora do BI&P Indusval & Partners, as medidas mostram que o governo está comprometido com o reequilíbrio fiscal. "Também expressam a preocupação em evitar um rebaixamento da nota de crédito do país", afirma.
Após o anúncio de aumento de impostos, a Petrobras afirmou que os preços da gasolina e do diesel nas refinarias serão acrescidos do PIS/Cofins e da Cide. A decisão foi bem recebida pelo mercado.
As ações da Petrobras, que chegaram a subir mais de 6% no pregão, reduziram os ganhos. Os papéis preferenciais, os mais negociados, fecharam em alta de 1,41%, a R$ 9,32. As ações ordinárias, com direito a voto, subiram 0,11%, para R$ 8,89.
"É uma boa sinalização para o mercado o anúncio de que a empresa vai repassar a alta, pois mostra uma independência maior que a estatal está tendo em relação ao governo. Em anúncios anteriores, a gente poderia ver a Petrobras sendo prejudicada e não podendo repassar as altas", avalia Pereira.
Dados positivos do exterior também animaram os investidores. A economia chinesa reportou, no ano passado, o crescimento mais fraco em mais de duas décadas, continuando a sua rota de desaceleração. No entanto, a queda foi menor que a esperada pelo mercado.
O PIB da segunda maior economia mundial teve expansão de 7,4% em 2014 ante o ano anterior e, pela primeira vez desde 1998, ficou abaixo da meta estabelecida pelo governo, que no ano passado foi de 7,5%. "Esses números evidenciam que a economia chinesa está se desacelerando, deste modo aumentando as apostas a respeito de medidas de estímulos a serem tomadas pelo governo chinês", afirma Barbosa, em relatório.
ELÉTRICAS
No setor elétrico, as preocupações com um possível racionamento deram o tom nesta terça-feira, um dia após um apagão afetar 11 Estados e o Distrito Federal.
Em relatório, Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets, afirma que o debate sobre a possibilidade de racionamento de energia deve ganhar força nos próximos dias.
Essa preocupação derrubou a maior parte das ações de elétricas nesta terça-feira (20). Os papéis preferenciais da Eletrobras fecharam com queda de 5,53%, para R$ 7. As ações ordinárias da empresa fecharam com queda de 2,60%, em R$ 5,25.
Também encerraram em baixa as ações da Light (-1,63%, para R$ 14,51), CPFL (-2,68%, para R$ 17,05) e Copel (-2,02%, para R$ 31,50). A Cesp caiu 0,29%, para R$ 24,23. O índice de energia elétrica da Bovespa teve baixa de 0,75%.
As ações da Cemig e da Tractebel destoaram do setor e subiram, respectivamente, 0,86% e 1,88%. Os papéis da Energias do Brasil fecharam estáveis em R$ 8,53.
CÂMBIO
No mercado cambial, o dólar fechou em baixa em relação ao real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,97%, a R$ 2,616. O dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou com desvalorização de 1,54%, a R$ 2,615.
No Brasil, o dólar operou descolado do cenário externo. A moeda americana se valorizou ante 16 das 24 principais divisas emergentes. "Avalio que o mercado está digerindo as medidas da segunda. Algumas são impopulares, como aumento da gasolina, taxação de produtos importados", afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.
"Mas aparentemente dá suporte ao que o mercado esperava que o ministro teria em relação a autonomia para colocar o dedo na ferida", complementa. "Principalmente pela possibilidade de que o país não sofra um rebaixamento da nota de crédito e que consiga reconstruir o caixa do governo", completa Galhardo.
Na manhã desta terça (20), o BC deu sequência às intervenções diárias no mercado de câmbio, oferecendo 2.000 contratos de swaps cambiais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro). Os contratos têm vencimento em 1º de setembro e 1º de dezembro de 2015. Foram vendidos 1.100 contratos para 1º de setembro e 900 para 1º de dezembro, com volume correspondente a US$ 98,4 milhões.
O BC fez ainda mais um leilão de rolagem dos swaps que vencem em 2 de fevereiro, que equivalem a US$ 10,405 bilhões, vendendo 10 mil contratos. Até agora, a autoridade monetária já rolou cerca de 61% do lote total.