Para fazer frente à atual dificuldade de caixa, a Petrobras aumentou o valor dos projetos e investimentos dos quais pretende se desfazer neste e no próximo ano. A estatal espera obter US$ 13,7 bilhões (R$ 39 bilhões) com a venda de ativos no Brasil e no exterior.
A cifra representa um aumento de 23% em relação ao teto da meta originalmente traçada -de US$ 11 bilhões (R$ 32 bilhões), valor estabelecido em fevereiro do ano passado no Pano de Negócios e Gestão para os anos de 2014 a 2018. O piso, na época, foi fixado em US$ 5 bilhões (R$ 14,5 bilhões).
Segundo a Petrobras, 30% dos recursos devem vir da venda de projetos de exploração e produção, como a venda de parcial ou integral de campos de petróleo e gás. A expectativa é que outros 30% terão origem na área de abastecimento, que inclui refinarias, dutos, terminais e a rede de distribuição de postos de combustíveis. A maior fatia, prevê a estatal, deve ser obtida em empreendimentos de gás e energia, como termelétricas, gasodutos e unidades de produção de fertilizantes.
A Petrobras não listou os projetos que serão colocados à venda. A nova meta foi estabelecida na quinta-feira (26) em reunião da nova diretoria colegiada da companhia.
A estatal já fez contato com bancos de investimentos, como apurou a reportagem, para buscar parceiros para comprar uma fatia ou a totalidade dos projetos.
Com restrições maiores em obter crédito sem seu balanço auditado e após a perda do grau de investimento para seus títulos de dívida, a estatal se viu forçada a se desfazer de mais ativos, mesmo campos de produção, cuja avaliação de seu valor é afetado atualmente pela queda do preço do produto no mercado internacional.
Em comunicado ao mercado, a Petrobras afirmou que o aumento da previsão de recursos que poderão ingressar no caixa da companhia com a venda de projetos e empreendimentos faz parte "do planejamento financeiro da companhia que visa à redução da alavancagem e preservação do caixa".
Em outras palavras, a estatal pretende reduzir seu pesado endividamento. A estatal ressalta que pretende ainda se "concentrar nos investimentos prioritários, notadamente de produção de óleo e gás no Brasil em áreas de elevada produtividade e retorno" --nesse caso, a companhia faz referência especialmente aos campos do pré-sal.
A Petrobras tinha dívidas de R$ 332 bilhões no fim de 2014. Em 2012, o primeiro ano sob a direção da ex-presidente Graça Foster, a dívida total da estatal era de R$ 181 bilhões. O indicador que relaciona dívida e patrimônio da companhia subiu de 31% em 2013 para 43% no fim do terceiro trimestre de 2014.
Outro indicador do estrangulamento do caixa é a alavancagem (que relaciona dívida e geração de caixa): era de 2,77 em 2012 e passou para 4,63. Ou seja, a dívida, que já era quase o triplo da capacidade de gerar fundos, subiu para quase o quíntuplo.
Se conseguir êxito na empreitada vender campos num momento de baixo preço, menor rentabilidade e excedente de produção de petróleo, a estatal espera, dizem analistas, conseguir recuperar a chancela de empresa segura para investir --perdida com o rebaixamento da nota de risco para o grau especulativo pela agência Moody's.
MERCADO
A própria Petrobras, no comunicado, reitera que o sucesso do novo plano depende das condições de mercado. "Ressaltamos que o valor aprovado de US$ 13,7 bilhões é a melhor estimativa da Petrobras. No entanto, ela é sensível a variáveis de mercado, tais como a cotação do barril de petróleo tipo brent [referência internacional], taxa de câmbio, crescimento econômico brasileiro e mundial, dentre outras." Mudanças nessas premissas, diz a companhia, podem modificar a meta.
As operações de venda de ativos têm de ser aprovadas pelo Conselho de Administração da Estatal e órgãos reguladores do Brasil e do exterior, em determinados casos.