Depois de cinco altas consecutivas, o dólar fechou em queda em relação ao real nesta quarta-feira (29), com o mercado de olho na reunião de política monetária do Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), que terminou sem surpresas.
Assim como esperado, a autoridade americana manteve os juros inalterados naquele país, perto de zero, e sinalizou que um aumento da taxa deve ocorrer ainda neste ano.
No Brasil, a política monetária também esteve no radar dos investidores, que aguardam a decisão sobre o juro básico (Selic) na noite desta quarta (29). A maior parte dos economistas projeta que o Banco Central vai elevar a taxa em 0,5 ponto percentual, para 14,25% ao ano.
Aumentos da taxa de juros viabilizam normalmente a migração de recursos da Bolsa de Valores para a renda fixa. Assim, o investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.
Por outro lado, a alta da taxa Selic tende a atrair mais investidores estrangeiros para o país, em busca de retornos mais atraentes para suas aplicações. Com uma oferta maior de dólares no mercado, a cotação da moeda tende a cair.
Após ter voltado a atingir na véspera seu maior valor em mais de 12 anos, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou esta quarta-feira em baixa de 2,28% sobre o real, cotado em R$ 3,337 na venda. Na sessão anterior, a divisa chegou a bater R$ 3,433. Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, cedeu 1,18%, cotado em R$ 3,330 na venda.
Mesmo com expectativa de aumento da Selic, o principal índice da Bolsa brasileira fechou em alta pelo segundo dia. Segundo analistas, o movimento foi uma continuidade da correção registrada na véspera, quando o Ibovespa subiu pela primeira vez em oito sessões. Apenas entre 17 e 27 de julho, houve queda acumulada de 8,17%.
A valorização do Ibovespa foi de 1,30% nesta quarta-feira, para 50.245 pontos. O índice acompanhou o bom humor dos mercados internacionais, que fecharam no azul, na esteira da retomada nos preços das commodities no exterior.
Apesar do respiro, a avaliação é que o mercado segue cauteloso com o cenário interno, especialmente após a agência de classificação de risco Standard & Poor's ter revisado para negativa a perspectiva para a nota de crédito do Brasil. Isso indica que o país pode ser rebaixado caso não reverta as atuais condições de implementação de sua política fiscal.
"A atividade econômica está ruim, o desemprego está aumentando e, com o 'abandono' da meta fiscal para este ano, cresceu o risco de rebaixamento do rating brasileiro", diz Julio Hegedus, economista-chefe da Lopes Filho. "A crise política dificulta a aprovação de medidas de ajuste fiscal. Esse cenário força o Banco Central a manter o rigor na condução da política monetária."
Para James Gulbrandsen, da gestora NCH Capital, a correção tanto no mercado de câmbio quanto no mercado de ações já era esperada. "O mercado antecipa tudo, e os preços dos ativos já consideravam um rebaixamento da nota de risco do Brasil ou um corte em sua perspectiva, como anunciado na última sessão pela S&P. Por isso o respiro visto nesta quarta-feira é natural", afirmou.
Segundo ele, há motivos para o pessimismo com o cenário político-econômico brasileiro, mas "talvez o mercado esteja exagerando" nas reações. "O nível de 'spread' do CDS brasileiro está parecido com o de países como a Rússia, mas sabemos que nossa situação é bem melhor que a russa. Isso torna o mercado muito volátil. Há um pessimismo exagerado, na minha visão", completou.
AÇÕES
As ações preferenciais, mais negociadas e sem direito a voto, de Petrobras e Vale mantiveram nesta quarta-feira a alta registrada na véspera, devolvendo perdas recentes. Os ganhos foram de 7,52% e 1,68%, respectivamente. Tanto o petróleo quanto o minério de ferro fecharam a sessão em alta no mercado internacional.
Os bancos também encerraram o dia no azul, ajudando a suportar a alta do Ibovespa. Este é o setor com o maior peso dentro do índice. Itaú teve valorização de 0,99%, enquanto Bradesco subiu 1,10% e o Banco do Brasil avançou 4,43%.
Quem liderou a ponta positiva do Ibovespa foi a Telefônica Brasil, com alta de 6,60%, para R$ 44,24. A empresa divulgou resultados operacionais, no primeiro balanço trimestral após a conclusão da compra da GVT. Ela elevou a expectativa de sinergias com a GVT para R$ 16,2 bilhões.