O minério de ferro deverá atravessar 2016 com os valores médios abaixo de US$ 50 a tonelada, trazendo mais pressão às mineradoras, depois de um ano em que o preço já foi apontado como "em colapso". Além da baixa demanda, o próximo ano ainda será marcado pela entrada de novas capacidades no mercado transoceânico, fator que seguirá impondo menor margem de rentabilidade às mineradoras, que devem manter o ritmo de controle de despesas e busca pelo insumo de baixo custo.
Tendo em vista a queda livre dos preços, a Vale, com um foco claro na priorização de margens, cortou uma capacidade de cerca de 25 milhões de toneladas de minério de ferro em minas apontadas como menos eficientes. As outras "duas grandes", as australianas BHP Billinton e Rio Tinto, também fizeram ajustes dessa natureza.
Felipe Beraldi, analista da Tendências Consultoria, lembra que o projeto S11D da Vale terá impacto maior no aumento da oferta a partir de 2017 e disse que espera que no ano que vem alguma capacidade de mais alto custo da China saia do mercado. No entanto, mesmo esse possível ajuste não deve ajudar para que os preços registrem alguma recuperação significativa. Beraldi destaca que, na média, por mais um ano, o preço do minério de ferro em 2016 deverá ficar abaixo do observado em 2015. Na Tendências, a expectativa é que os preços girem em torno de US$ 45 a tonelada a US$ 50 a tonelada no curto prazo.
Segundo análise do Credit Suisse, os preços do minério de ferro seguirão baixos pelos próximos dois anos e podem tocar em US$ 50 por tonelada apenas pontualmente, operando em níveis inferiores a esse na maior parte do tempo em 2016 e 2017. Em relatório, a instituição financeira estima que os preços do insumo devem subir para US$ 45 por tonelada no primeiro trimestre de 2016, avançando para US$ 50 por tonelada, entre abril e junho, e voltando para perto dos níveis atuais no segundo semestre, a US$ 35 por tonelada.
Em 2015 o minério de ferro perdeu quase metade do valor, renovando em diversos momentos o preço mais baixo registrado em mais de uma década, ao cair abaixo de US$ 40 a tonelada. Em 2014, o preço já havia caído cerca de 47%. Ao longo deste ano, o valor de US$ 37 a tonelada, que bateu em dezembro, é o menor do histórico da consultoria The Steel Index, que compila os dados desde novembro de 2008. No mercado, os preços spot (à vista) começaram a ser divulgados diariamente por consultorias especializadas desde o fim da supremacia da precificação de longo prazo benchmark, em 2008. Hoje o preço estava em US$ 41,4 a tonelada na China.
Se os preços persistirem abaixo de US$ 40 a tonelada em algum momento em 2016, as mineradoras tomarão ainda mais medidas para tentar salvar alguma margem, como corte de dividendos e produção, além de uma busca incessante por menores custos. "A queda do preço para o patamar de US$ 30 parece ser um ponto de inflexão para as maiores mineradoras. O tombo do minério de ferro ameaça os grandes produtores do mundo, porque os preços se aproximam dos custos de equilíbrio", segundo a Investec. Assim, a exemplo do que ocorreu em 2015, com as mineradoras ajustando sua produção com foco também em manter um balanço financeiro saudável, 2016 deverá manter esse tônica para as companhias atravessarem o ciclo de baixa dos preços.
O RBC Capital Markets projeta que cotações do minério de ferro deverão manter a trajetória de queda, mesmo após atingirem os menores níveis em uma década, segundo relatório enviado ao mercado. "Esperamos que os fundamentos fracos do aço, o sentimento baixista nos mercados e o excesso de oferta global do minério continuem pesando nos preços da commodity no curto prazo".
Um corte de capacidade da mineração chinesa é de difícil mensuração, uma vez que as mineradoras não operam com rentabilidade há muitos meses e, ao longo desse período, têm sobrevivido por conta do subsídio dado pelo governo chinês, que busca a manutenção dos empregos no setor. Do lado das mineradoras de grande porte, alguns cortes pontuais já foram realizados, mas dependendo da trajetória de preços, outros podem ocorrer ao longo do ano que vem.
O especialista em mineração, José Mendo, da Mendo Consultoria, destaca que a produção marginal na China já começa a diminuir e que esse movimento deverá continuar ao longo do próximo ano. Por outro lado, ele lembra que o fator que pode ser determinante para essa retirada de capacidade é como a China responderá às discussões promovidas no COP-21 e se colocará na prática medidas para diminuir os níveis de poluição no país. Se essa decisão for tomada, lembra, a China deverá diminuir o uso de seu minério, de baixa qualidade e muito poluente, e passar a aumentar o uso do insumo do mercado transoceânico. Para o especialista, o preço abaixo de US$ 40 a tonelada é um ponto fora da curva. Por isso, ele prevê que no ano que vem os valores devam ficar entre US$ 45 a tonelada e US$ 50 a tonelada.
Enquanto isso, a brasileira Vale, que vem focando em controle de custos, deve seguir com a fase final de seu processo de desinvestimento em 2016, movimento que tem realizado também para manter saudável o seu fluxo de caixa nesse período. Nas contas da companhia, o seu fluxo de caixa livre voltará a ser positivo em 2017. A principal razão é o pleno funcionamento do projeto S11D, que injetará à mineradora uma capacidade de 90 milhões de toneladas anuais, com uma matéria-prima de baixo custo e melhor qualidade.