O governo trabalha com um cenário de uma alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), menor do que a esperada pelo mercado, na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para esta terça-feira (19), e quarta-feira (20). Se a expectativa for confirmada, a Selic, que atualmente está em 14,25%, subirá para 14,50%. A cúpula do PT promete reagir e fazer duras críticas ao governo, caso os juros subam.
A presidente Dilma Rousseff conversou nesta segunda (18) com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mas a reunião não constou da agenda oficial. Tombini está sob forte pressão política e enfrenta divisões na diretoria do Banco Central sobre o efeito do aumento da Selic.
Dirigentes e parlamentares do PT dizem, nos bastidores, que a recessão e o desemprego vão se aprofundar se a política monetária continuar nesta toada. Para auxiliares de Dilma, porém, comentários assim podem causar "efeito contrário", porque o Banco Central tende a mostrar total autonomia na próxima reunião, para dar um sinal de que não cede a pressões do PT.
No Palácio do Planalto, assessores da presidente também estão divididos sobre a eficácia da alta dos juros, mas há quem diga que um ligeiro aumento pode, sim, ter efeito sobre o combate à inflação e as expectativas de ajuste da economia.
A Executiva Nacional do PT vai se reunir no próximo dia 26, em Brasília, para avaliar o cenário político e econômico. Agora, há no partido quem defenda até mesmo a saída do presidente do Banco Central - considerado um contraponto ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa -, caso os juros voltem a subir.
Tombini entrou na mira do PT e virou uma espécie de Joaquim Levy, alvejado por várias correntes da sigla. Então ministro da Fazenda, Levy foi bombardeado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por vários petistas até cair, em dezembro. Para Lula, ele estava com "prazo de validade vencido" porque "só falava em ajuste fiscal" e se recusava a apontar uma "direção de crescimento" ao País.
"A presidente Dilma disse que está preocupada, mas ela tem de passar da preocupação à ação. Num ambiente de desemprego e angústia social, não podemos aceitar o aumento dos juros", afirmou o secretário de Formação Política do PT, Carlos Henrique Árabe. Em conversas reservadas, dirigentes do partido dizem, ainda, que a queda do emprego e da renda pode ser fatal para a legenda neste ano de eleições municipais.
"No Brasil, o mandato do Banco Central está exclusivamente centrado no combate à inflação e sem preocupações com o nível de atividade e emprego. Incorporar a questão social e do emprego requer a utilização de outros instrumentos de política monetária para a obtenção simultânea destes objetivos", diz um trecho do documento "Por um Brasil Justo e Democrático", produzido pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
O texto destaca que o aumento dos juros, a longo prazo, pode causar a "desindustrialização" e "estagnação" da economia, como o "consequente flagelo" do desemprego. "Nessa situação, se o governo pretende construir um melhor caminho para a travessia, não pode deixar de rever a sua política de juros comandada pelo Banco Central e dar início o quanto antes à sua redução", observa o documento.