Com o diagnóstico de mal de Parkinson, veio o afastamento do trabalho em maio de 2014. Motorista, Ricardo Silva, 48 anos, precisou abandonar o ofício e recorrer ao benefício do auxílio-doença para pagar as contas. Mas, com a greve deflagrada em setembro do ano passado pelos médicos peritos do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), Ricardo teve sua consulta, necessária para a renovação do benefício social, adiada repetidas vezes. “Comecei a tentar marcar logo depois do início da greve, mas eles desmarcaram várias vezes. Só vou conseguir atendimento em 20 de abril”, lamenta. O motorista, que já era beneficiário do INSS, não recebe há quatro meses.
Em média, o tempo necessário para ser atendido por um médico perito pelo órgão é de cerca de 20 dias. Com a greve, marcações estão sendo recolocadas para daqui a cerca de três meses. A estimativa é de que 2,4 milhões de atendimentos tenham sido cancelados em todo o Brasil desde o início das reivindicações.
Apesar de terem concordado em voltar ao trabalho na próxima segunda, os médicos continuarão em estado de greve, mantendo negociações com o governo por reajuste salarial de 27,5%, capaz de compensar a inflação, por condições mais dignas de trabalho – consequentemente, de atendimento para os pacientes – e pela abertura de concurso público para contratação de novos profissionais, entre outras reivindicações. Mesmo com a duração extensa da greve e o acúmulo de atendimentos, o representante da Associação Nacional dos médicos peritos da Previdência Social (ANMP) em Pernambuco Adilson da Silva afirma que a categoria tem feito o possível para não prejudicar a população. “As pessoas que marcam consulta porque precisam da renovação do auxílio-doença devem saber que continuarão recebendo durante todo o período da greve devido à impossibilidade de atendimento”, assegura. Ricardo, no entanto, enfrenta outra realidade.
De acordo com o INSS, para manter o benefício, é preciso comparecer à agência da Previdência Social e buscar uma comprovação de que não teve o atendimento para conseguir estender o prazo de renovação. Já quem, por motivos de saúde, precisar recorrer ao benefício no período da greve, não conseguir atendimento e voltar a trabalhar logo depois com o aval de um médico do trabalho pode ser ressarcido junto ao órgão por todo o período que ficou impossibilitado de exercer sua profissão.
“O que pedimos agora é compreensão, porque a greve é a única forma que temos de protestar por condições mais humanas para nós e os pacientes”, defende o presidente da ANMP. “Até agora, todas as propostas do governo foram injustas para a categoria”, afirma o presidente da ANMP.
Em nota, o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) afirma que, em muitas unidades, médicos já voltaram a atuar, enquanto em outras há assistência com corpo profissional reduzido a 30%. O órgão afirma, ainda, que os casos prioritários estão recebendo atenção.
Médicos pedem paciência à população
Quem precisa recorrer ao atendimento de médicos peritos do INSS no Recife já pode ficar mais esperançoso. De acordo com representante da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP) em Pernambuco Adilson da Silva, o atendimento de beneficiários deve voltar a funcionar com o corpo médico completo a partir da próxima segunda-feira (25).
“Entendemos os transtornos causados para a população que precisa do serviço e vamos atender prioritariamente quem está recorrendo ao INSS pela primeira vez para conseguir o auxílio”, relata Adilson. Quem precisa da renovação, por outro lado, vai ter que esperar mais um pouco. Como é possível continuar recebendo o auxílio-doença através da extensão do prazo de renovação do benefício, apenas os casos mais prioritários serão atendidos. “As pessoas só precisam comprovar que compareceram ao centro de atendimento, mas não conseguiram assistência”, orienta Adilson.
Atualmente, o corpo da perícia médica do Recife opera com 60 profissionais, mas apenas 30% do volume total, ou seja, apenas 18 profissionais estão trabalhando desde que a greve foi deflagrada. “Essa medida de reduzir a quantidade de profissionais ativos foi tomada porque precisávamos impactar o poder público para acelerar as negociações”, comenta Adilson.
Como os impactos para a população têm sido severos, os médicos decidiram voltar a operar com os casos mais prioritários, e a ordem de atendimento obedecerá o calendário que já está marcado pelo INSS.