O setor agropecuário receia ter demandas importantes travadas enquanto o cenário político não se desenrola, mas vê mais agilidade nas respostas ao campo em uma possível confirmação de Michel Temer como presidente substituto, em caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff. É o caso do Plano Safra 2016/17, com as diretrizes para o ciclo produtivo que começa em 1º de julho.
O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, negou ao Broadcast Agro, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, ter se encontrado com o vice-presidente Michel Temer nas últimas semanas, mas já trabalha com a ideia de que negociará com um novo governo. "Temos grande expectativa de que Michel Temer tenha agilidade. O Temer não tem de esperar a posse dele para discutir esse tipo de coisa. Ele já está procurando identificar quem será o ministro da Agricultura eficiente, o presidente do Banco Central e os outros ministros, isso porque para o processo de impeachment passar no Senado não é difícil."
Segundo Martins, há uma sinalização de que Temer gostaria de uma conversa com a classe empresarial. "Precisamos mostrar que o setor tem de resolver os gargalos no Plano Safra. Temos de mostrar a ele as possibilidades. Lógico que ele não vai entrar e começar a construir portos, por exemplo, mas vamos mostrar que alguma coisa é possível fazer."
O executivo da CNA defendeu algumas pautas como mais urgentes: Plano Safra; segurança jurídica para evitar a invasão de terras e o conflito entre produtores e a população indígena; regras para terceirização no campo; e desburocratização na liberação de licenças ambientais. "Queremos uma sinalização de que o Estado será menor. O governo tem de estar restrito a saúde, educação e segurança. O governo ocupar a função da iniciativa privada não é possível", defendeu.
Sobre a ministra Kátia Abreu (Agricultura), presidente licenciada da CNA, Martins foi duro: "Não fomos nós que expulsamos a Kátia, ela que escolheu ir para o outro lado", afirmou. Segundo ele, as entidades não querem mais que ela se declare como representante do setor. "Ela teve oportunidade. Ela sempre disse que o Lula era uma pessoa que ela não aceitava. Quando o Lula foi anunciado ministro, ela teve o momento para justificar sua saída do governo e não o fez", observou. Martins ainda classificou a amizade entre Kátia Abreu e a presidente Dilma Rousseff como incompreensível.
Juros mais altos
O presidente da CNA disse, ainda, que na próxima semana o setor privado e o governo devem acertar o esboço do que deve ser o conjunto de medidas para o novo Plano de Safra 2016/17. Segundo ele, o setor produtivo até aceitaria um aumento da taxas de juros em troca da garantia de recursos para custeio e investimento. "Melhor pagar um pouco mais de juros, mas garantir que esse dinheiro saia", afirmou. Segundo o executivo da CNA, é possível um aumento nas taxas de juros entre 0,25 ponto porcentual e 0,50 ponto porcentual.
Já outras entidades que também participam da construção do plano dizem que o setor aceitará taxa até 1,5 ponto porcentual superior nas linhas subsidiadas.