Pacote econômico. Toda vez que um país recorre a este artifício é porque a coisa não vai bem.
No Brasil, já nos acostumamos a conviver com pacotes, porque nossa economia, embora seja a 7ª maior do mundo, é muito vulnerável a ações políticas equivocadas, que resultam na deterioração dos números.
Mas que fique claro: as medidas anunciadas ontem são importantíssimas.
O que se busca é recuperar a austeridade fiscal e, com ela, a credibilidade para além de nossas fronteiras. Só assim os investimentos virão, os empregos serão gerados e voltaremos a pensar em dias melhores.
Atualmente, com exceção da balança comercial (beneficiada pelo dólar alto), praticamente todos os nossos fundamentos econômicos estão arruinados. Existem hoje 11,1 milhões de desempregados, segundo o IBGE, a inflação acumulada em 12 meses (que deveria ser de 4,5%) beira os 10%, os juros básicos de 14,25% só são comparáveis a países em guerra (sem falar do rotativo e do cheque especial, que passa de 400% ao ano), a carga tributária é das mais altas do mundo (quase 35% do PIB), o número de devedores com o nome sujo está na casa dos 60 milhões e o rombo no orçamento do País, recalculado recentemente, é de R$ 170,5 bilhões.
Não há futuro para o Brasil se não houver ajuste nas contas. O País vai quebrar e comprometer o que resta de esperança para as novas gerações.
Para entender um pouco da crise que nos abate, voltemos ao passado. Entre os anos 1990 e 2011, o mercado internacional, impulsionado pelo crescimento da China, demandou muitos produtos que o Brasil tinha de sobra, como soja e minério de ferro. São as chamadas commodities.
Por causa da procura alta, o preço foi lá para cima. O Brasil, naturalmente, ganhou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003/2006 e 2007/2010) estimulou as exportações, descobriu novos mercados e surfou numa onda de euforia e otimismo. Também estimulou a concessão de crédito internamente pelos bancos públicos e privados. As empresas tomaram empréstimos, os consumidores também, obras de grande porte foram iniciadas, programas sociais ampliados, o salário mínimo teve reajustes reais, empregos foram gerados. E a vida melhorou. De fato, o modelo da época favorecia a distribuição de renda. Mais de 40 milhões de brasileiros deixaram a pobreza.
Mas houve um erro imperdoável naqueles oito anos, como houve também nos anos FHC, é bom que se diga. O Brasil negligenciou investimentos em educação, infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento. E não precisa ser um ás da economia para entender que nenhum país se torna uma potência só estimulando consumo de bens duráveis.
Em 2008, veio a crise internacional. O próprio Lula disse que seria só uma marolinha. Não foi. Com a retração global, o Brasil demorou a sentir o golpe, mas também foi afetado. A China, motor da economia global ao lado dos Estados Unidos, reduziu suas compras de commodities do Brasil. Sem os dólares de outrora, o que era superávit comercial virou déficit.
Dilma Rousseff (2011/2014 e 2015/?), agora afastada, errou feio na condução da política econômica.
Em seu primeiro mandato e em parte do segundo, após reeleita, minimizando os efeitos da crise, recorreu a subsídios e estímulos individuais a indústrias como a automotiva (historicamente beneficiada por benefícios tributários) e a de eletrodomésticos. Aumentou os gastos públicos, quando era o momento de fechar a torneira, forçou uma redução nos juros, interferindo no BC quando não havia condições para tal. E a inflação mostrou as garras. Depois, subiu os juros para tentar controlar a inflação,interferiu e quase quebrou o setor elétrico, tentou privatizar estradas sem oferecer segurança jurídica aos investidores, fragmentou a base de apoio no Legislativo e, quando mais precisou, não conseguiu aprovar o seu ajuste fiscal (Joaquim Levy saiu sabotado pelo próprio PT). Some-se a tantos erros de Dilma, a crônica ineficiência da indústria nacional, que, golpeada pelo chamado custo-Brasil, não consegue ganhar mercados externos nem competir com importados. Vieram as demissões. E quem tinha se endividado no período Lula agora pena para pagar prestações num ambiente de inflação alta e queda na renda.
A crise atual é séria e complexa. Mas é superável. Para isso, basta que o governo atual (se sobreviver às denúncias da Lava Jato) entenda que ninguém consegue prosperar gastando com irresponsabilidade e sem critério. E olhe que nem aprofundei a questão da corrupção.