Prejuízos causados por desastres naturais no Brasil custaram pelo menos R$ 182,8 bilhões – uma média de R$ 800 milhões por mês –, entre 1995 e 2014. Os números fazem parte do mais completo mapeamento da quantidade de eventos meteorológicos, como secas, estiagens, inundações e enxurradas, que atingiram o País em 20 anos e o impacto financeiro que tiveram.
Estão incluídas na análise tragédias como as enchentes e deslizamentos de terra que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro em 2011, deixando 918 mortos, além das inundações no Vale do Itajaí (SC), em novembro de 2008; em São Luiz do Paraitinga (SP), em janeiro de 2010; e a seca que atinge do Nordeste brasileiro desde 2013.
Os autores do trabalho, realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres (Ceped) da Universidade Federal de Santa Catarina, com apoio do Banco Mundial, afirmam, no entanto, que os resultados são reconhecidamente subestimados. Isso ocorre porque os dados disponíveis sobre os eventos climáticos e os possíveis danos materiais são limitados.
Para este estudo, os pesquisadores levaram em consideração as informações reportadas pelas Defesas Civis aos Estados e à União, que em geral só são feitas nos casos mais graves, em que o município não consegue lidar com o desastre e precisa de ajuda financeira. E consideraram somente impactos diretos.
"É só a ponta do iceberg e ainda assim estamos falando de uma média de R$ 800 milhões por mês. Que é, para se ter uma ideia, mais ou menos o gasto que se tem com caminhão-pipa por ano no Nordeste", afirma Frederico Ferreira Pedroso, especialista do programa de Gestão de Riscos de Desastres do Banco Mundial.
Mais frequentes e graves. Segundo o estudo do Ceped, o problema vem se intensificando. Do total de 22.810 registros do Sistema Integrado de Informações de Desastres da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil analisados, 76% ocorreram na segunda década de estudo, que também concentrou 82% do valor dos prejuízos.
Os autores ponderam que houve uma melhoria na notificação dos desastres, mas defendem que isso explica apenas em parte o aumento dos registros. A conclusão é de que a frequência dos eventos e as perdas também estão aumentando.
"A primeira década teve menos eventos e, proporcionalmente, foram menos danosos que na segunda", afirma Rafael Schadeck, pesquisador do Ceped e organizador do levantamento. Se na primeira década o valor por evento, em média, foi de R$ 5,84 milhões, na segunda, foi de R$ 8,71 milhões.
Para os autores, um motivo é o crescimento desordenado das cidades e o que eles chamam de "aumento da exposição" aos riscos "As cidades estão crescendo para onde não deveriam. A gente vai se colocando em uma situação cada vez mais complicada. O planejamento urbano tem de levar isso em conta para permitir uma efetiva prevenção", diz Pedroso.
Para completar o quadro, os eventos extremos – como tempestades intensas e concentradas e secas severas e duradouras – estão mais frequentes. É uma tendência em todo o mundo e está cada vez mais relacionada com o aquecimento global e as mudanças climáticas.
A tendência para o futuro, explica o climatologista Francisco Aquino, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Estado que liderou os prejuízos no País –, é de piora.
"Considerando as emissões atuais de gases de efeito estufa, a próxima década deverá ser ainda mais intensa em desastres naturais". Para o Ceped, "é de vital importância a inserção, de forma ativa e articulada, da gestão de riscos e de desastres na agenda dos governos e da sociedade". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.