Fundos tentam barrar bancos na gestão de previdência complementar de servidores

Fundos de pensão tentam barrar proposta que permite à iniciativa privada assumir a gestão dos planos de aposentadoria complementar de servidores públicos
Estadão Conteúdo
Publicado em 15/08/2017 às 14:30
Fundos de pensão tentam barrar proposta que permite à iniciativa privada assumir a gestão dos planos de aposentadoria complementar de servidores públicos Foto: Foto: Alex Ferreira/Agência Câmara


Com a retomada das discussões sobre a Reforma da Previdência, os fundos de pensão começaram nova ofensiva para barrar a proposta que permite à iniciativa privada assumir a gestão dos planos de aposentadoria complementar de servidores públicos mediante licitação. Hoje essa opção não é permitida, mas o relator da reforma, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), introduziu a mudança em seu relatório, que ainda não foi votado pelo plenário da Câmara dos Deputados.

Em campanha para tentar reverter a medida, a Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão (Anapar) realizou estudo que mostra que o benefício mensal pago pelos fundos é 238% maior do que na previdência privada. "Estamos contrários à abertura (da gestão para a iniciativa privada), e um dos motivos está explícito no estudo", diz o consultor da Anapar Luiz Felippe Fonseca.

A entidade também acredita que os dados contribuem para desfazer a imagem ruim em torno dos fundos de pensão, após episódios como a Operação Greenfield, que investiga fraudes na gestão dos recursos dos fundos, causando perdas aos beneficiários. No ano passado, Petros (de servidores da Petrobras), Postalis (Correios) e Funcef (Caixa) tiveram, juntos, rombo superior a R$ 30 bilhões. "Queremos resgatar a visibilidade dos fundos, que estão sendo mal vistos pela sociedade", afirma Fonseca.

Benefício maior

A simulação considera que o beneficiário contribuiria com R$ 500 mensais durante 35 anos. Com isso, cálculos da entidade apontam que o valor da aposentadoria vitalícia seria de R$ 2,7 mil para um segurado de fundo de pensão, e de R$ 803,04 para um beneficiário de plano privado.

A associação atribui a diferença ao fato de os bancos e as seguradoras cobrarem taxas de administração e de carregamento mais elevadas para gerenciarem os recursos. Além disso, os fundos de pensão argumentam que eles não têm fins lucrativos, ao contrário dos entes privados que oferecem o serviço.

Caso o beneficiário optasse por resgatar todo o valor capitalizado, em vez de receber a aposentadoria vitalícia, o montante também seria maior dentro dos fundos de pensão, segundo a Anapar. Em um período de 35 anos de contribuição, os fundos de pensão gerariam um valor acumulado 34,4% maior do que na iniciativa privada, enquanto ao logo de 49 anos a rentabilidade será 57,2% maior nos planos fechados.

Diante dos dados, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz apenas que "cada banco tem sua política e estratégia comercial própria para produtos e serviços oferecidos aos clientes".

A Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), que representa os fundos, já articula a derrubada do artigo que prevê a possibilidade de licitação, apesar de a aprovação da reforma como um todo ainda ser incerta diante da crise política e da resistência de parlamentares em retomar a votação. Caso a medida passe, a entidade promete recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) e questionar a constitucionalidade da alteração.

O governo, por sua vez, diz que as entidades fechadas terão inclusive condições de custo melhores do que os bancos para concorrer na licitação, justamente por não visarem ao lucro. Mas os fundos questionam esses argumentos e reclamam que não têm os mesmos benefícios das instituições privadas, como incentivos tributários.

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