Para sair da UTI, indústria precisa das reformas, diz economista

Economista-chefe da XP Investimentos diz, no Recife, que indústria está na UTI e que agenda de reformas tem que prosseguir
JC Online
Publicado em 23/07/2019 às 18:54
Economista-chefe da XP Investimentos diz, no Recife, que indústria está na UTI e que agenda de reformas tem que prosseguir Foto: DIVULGAÇÃO


A economista-chefe da XP Investimentos Zeina Latif disse nesta terça-feira (23) que a redução dos juros básicos da economia, esperada após a reforma da Previdência passar em primeiro turno na Câmara dos Deputados, não é a “salvação da lavoura” para o Brasil voltar ao crescimento econômico. Ela diz que a reforma tributária é o próximo, mas difícil passo. “Nossos problemas são estruturais, o País potencialmente está muito frágil, é um paciente de UTI com sinais vitais estáveis. Precisamos acelerar as agendas de reformas estruturais”, disse em palestra a clientes do Recife ontem, em evento promovido pela Prime Investimentos, parceira local.

Para dar a ideia da extensão do problema, a economista comparou o crescimento industrial do Brasil com o resto do mundo e também em relação aos países emergentes, que crescem acima da taxa mundial. O Brasil está abaixo e se descolou do crescimento mundial a partir de 2010. “Nas gestões de Fernando Henrique Cardoso e Lula, o Brasil tinha potencial de crescimento de longo prazo de 3,5%. Atualmente nossa estimativa, na XP, não supera o 1%”, disse. Na visão da economista, o parque industrial do Brasil está obsoleto, a mão de obra tem nível baixo de educação e, desde o início da década, o setor investe aquém do necessário. O potencial de crescimento engloba dados relativos à infraestrutura do país, o tamanho do parque industrial, a qualidade da tecnologia e da mão de obra envolvidas. “Mostra o quanto um país consegue crescer”.

Zeina relacionou o aumento do câmbio no ano passado com o aumento importação para demonstrar a fragilidade da indústria. “Quando o dólar sobe, naturalmente reduz a participação dos importados na cesta de consumo, nossa indústria ganha competitividade. No ano essa correlação se inverteu: o câmbio foi pra cima e a gente importou mais”, disse. “Nossos produtos industriais estão defasados.” Segundo ela, os setores de infraestrutura de galpões e portuária estão crescendo, por outro lado. “Claro, a gente está importando mais e o varejo vai melhor que a indústria.”

A economista disse que o governo Temer teve o mérito de retomar uma agenda mais racional e de cunho liberal, inserindo as reformas estruturais na pauta política do País, o que gerou uma recuperação lenta em 2017 e 2018, com a queda da inflação e dos juros básicos. Desde a greve dos caminhoneiros, porém, a indústria está praticamente estagnada. “É o setor mais vulnerável ao custo Brasil, principalmente a média empresa.” Zeina pondera que a pequena empresa está no Simples enquanto a grande tem acesso ao mercado de capitais e possui canais com juros mais vantajosos. Além disso, têm escala de produção que permitem diluir o elevado custo-Brasil. Esses, portanto, preocupam menos. Ela salientou que o crescimento da economia é importante, inclusive, para evitar problemas como a paralisação dos caminheiros. “Se a economia estivesse crescendo não teria havido essa greve”, observou.

BOLSONARO

Com relação ao governo de Bolsonaro, a economista destacou que o papel do atual presidente é o de não apenas manter a agenda de reformas, iniciada por Temer, como acelerá-la. “A dúvida é a capacidade de entrega, que poderá estar aquém das nossas necessidades. Esse é o risco, porque as nossas necessidades hoje são maiores que no passado.”

Ela lembrou que a reforma da Previdência teve o envolvimento de técnicos do governo para fazer um bom projeto, mas que o time de articulação política não teve o mesmo engajamento. Isso traria preocupação para as próximas pautas. Na sua visão, a reforma tributária é mais complexa e tem muitos envolvidos para negociar. “Sem envolvimento e diálogo não será possível uma reforma ambiciosa”.

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