A Argentina está de novo aberta para negócios, depois de uma fase de isolamento, disse o presidente Maurício Macri numa sessão do Fórum Econômico Mundial, retomando em pontos essenciais a mensagem transmitida no dia anterior, no mesmo auditório, por seu colega brasileiro Michel Temer.
Em dois dias, governantes das duas maiores economias da América do Sul apresentaram a executivos, investidores e políticos, em Davos, uma profissão de fé democrático-liberal, num esforço para dissipar a imagem do populismo recente em seus países. Ao cumprir essa tarefa, apresentaram também um Mercosul diferente, restituído, nas palavras de Temer, à vocação original de integração nos mercados mundiais.
No caso de Macri, a nova apresentação em sessão plenária do fórum é a continuação de um trabalho. Empossado em dezembro de 2015, ele começou logo depois a proclamar a mudança de rumo do governo argentino, depois de 11 anos de kirchnerismo. Passados pouco mais de dois anos, ele tem resultados para exibir. O crescimento voltou. No terceiro trimestre do ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) foi 4,2% maior que o de igual período de 2016. A comparação de três trimestres com três do ano anterior indicou um avanço de 2,5%.
Macri também mencionou o combate à inflação, mas sem detalhar o assunto. A inflação de fato caiu - de 40% em 2016 para 24,8% em 2017. Mas ficou de novo acima das expectativas anunciadas pelo governo, de um resultado entre 20% e 22%. Mas houve melhora, apesar de tudo, e, além disso, os números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) têm mais credibilidade que na fase kirchnerista.
Durante anos, dados econômicos da Argentina publicados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) foram acompanhados de ressalvas quanto à sua veracidade. Sem mencionar esse histórico, Macri realçou pelo menos o aumento da transparência e da credibilidade.
Transparência e fiscalização foram temas ainda citados por Macri, na resposta a uma pergunta sobre o combate à corrupção no Brasil e na Argentina. Macri citou de forma positiva as operações desenvolvidas no Brasil e citou esforços semelhantes em curso em seu país.
Como Temer, o presidente argentino realçou a fase pós-populista do Mercosul. Segundo Macri, esse bloco já foi o mais fechado e mais protecionista do mundo, mas agora está voltado para a busca de mais parcerias comerciais. O objetivo imediato é a conclusão do acordo com a União Europeia, em negociação há mais de 20 anos
Desta vez, o grande obstáculo é a resistência dos agricultores europeus - posição respaldada pelo governo de uma das maiores potências europeias, a França. Com encontro marcado em Davos com o presidente francês, Emmanuel Macron, Macri expressou a esperança de convencer o colega francês das vantagens do acordo.
Macri insistiu, tanto no discurso quanto na entrevista coletiva concedida mais tarde, no potencial do Mercosul como garantidor da segurança alimentar em todo o mundo. Esse é um dos três grandes temas propostos por Buenos Aires para as discussões do Grupo dos 20 (G-20) em 2018. Neste ano, a Argentina exercerá a presidência rotativa do grupo, formado pelas maiores economias, tanto desenvolvidas quanto emergentes.
O primeiro tema é o futuro do trabalho. Para cuidar disso será necessário um grande esforço de educação e treinamento. A conclusão de todos os trabalhadores nas condições de tecnologia e produção do mundo globalizado dependerá desse esforço. O segundo tema é o cuidado com a infraestrutura, com programas de expansão, de modernização e de eliminação das deficiências. Isso é parte da política interna desenhada pelo governo argentino. Como no Brasil, essa política envolve licitações de projetos e serviços e a mobilização de capitais privados. O terceiro tema é a segurança alimentar.
Foi montada este ano uma Casa Argentina, em Davos, onde Macri tem recebido políticos e empresários para tratar da pauta do G-20 e também para discutir planos de investimento no país. Lá estiveram na terça-feira, 23, entre outras figuras, a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, a rainha Máxima, da Holanda, o empresário Bill Gates e presidentes de vários grupos multinacionais, como Cargill, Total e Siemens. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo