A farra dos aluguéis acabou. Acostumados a preços inflados nos últimos anos, no Grande Recife, os proprietários agora têm dificuldade em encontrar inquilinos. Diante da insistência de seus clientes colocarem no mercado preços muito altos, as imobiliárias e corretores agora repetem o conselho: ou o dono baixa o valor ou o imóvel fica vazio. Parece que a teimosia tem sido grande. No mercado está sobrando apartamento e flats para alugar.
Nos últimos anos ocorreu uma espécie de “febre de Suape”, que veio junto da rápida expansão nacional do setor imobiliário. O crescimento econômico virou bordão para justificar os preços de venda e aluguel em forte disparada. No caso das locações, o lucro ficou tão fácil que muitos proprietários tentavam até fechar contratos por períodos mais curtos, de seis meses, para conseguirem emplacar mais rapidamente um reajuste e acompanhar as altas.
Como resultado, de janeiro de 2012 até março passado, o Recife foi a capital brasileira pesquisada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com a maior alta acumulada nos aluguéis, 17%. É mais que Belo Horizonte (15%), Rio de Janeiro (14%) e São Paulo (14%). A média nacional foi 13%.
O problema é que alta tem um limite bem objetivo, a renda do inquilino. E parece que essa barreira foi ultrapassada.
Diretor da Imobiliária Arrecifes, Petrus Mendonça é também professor de direito imobiliário e conselheiro federal dos conselhos nacional e local de corretores. “O mercado desacelerou forte. Muita gente ainda pensa em valores nas alturas. Por isso hoje sobra imóvel para alugar”, diz Petrus.
A teimosia dos clientes em manter preços altos fez algumas imobiliárias mais que dobrarem os apartamentos vagos. As empresas pediram para não ter os nomes associados aos números. Em uma, normalmente havia de 80 a 100 imóveis disponíveis. Hoje o número chega a 250. Na outra, a média era perto de 40 e agora o estoque fica perto dos 90 apartamentos vagos.
Samuel Marques, corretor de aluguéis da MG Imobiliária, não fala em números. Mas confirma o quadro. “Começou a sobrar muito apartamento. A gente fala com os proprietários, pede para eles baixarem preço, mas alguns não escutam. Um dois quartos no Rosarinho a R$ 1.600, por exemplo, já tem disponível.
A enfermeira Avani Cavalcanti é proprietária de um flat em Boa Viagem. Nos últimos dois anos, ela aproveitou a alta e costumava a emendar um aluguel no outro. Ela diz que já começou a baixar o preço de oferta para tentar acertar uma nova faixa de valores. “Estou sem alugar há dois meses”, conta.
Presidente do Sindicato das Empresas de Habitação Secovi), Luciano Novaes é também proprietário da Âncora Imobiliária. Para ele, o problema não é falta de demanda, mas o aluguel alto, que força até jovens voltarem a morar com os pais. “Tem gente que entendeu e já tenta acertar um novo preço. Outros continuam insistindo em um valor que não é real. O importante é proprietário e inquilino conversarem com uma administradora para enquadrar o imóvel em uma faixa de preços que corresponda à realidade do mercado”, afirma Novaes.