No Carnaval, o lucro do banheiro químico

Novidade do VRio, o "banheiro Vip", chama atenção para mercado pouco lembrado neste período
Giovanni Sandes
Publicado em 01/03/2014 às 0:15
Novidade do VRio, o "banheiro Vip", chama atenção para mercado pouco lembrado neste período Foto: Edmar Melo/ JC Imagem


Muita gente fez graça e alguns até polemizaram sobre uma pequena inovação no Carnaval 2014: os banheiros VIPs, limpos e higienizados o tempo todo, com acesso pago, na folia de rua do Recife e Olinda. A Risco Zero Auto investiu R$ 1,2 milhão em uma frota de 10 veículos, verdadeiros sanitários móveis. Apesar da novidade, o lucro com o “aperto” na hora da folia já é realidade há tempos no Carnaval. Está em cada banheiro químico e até em casas e bares que cobram por acesso ao sanitário. O que mudou foi a proposta: oferecer padrão de higiene, algo difícil de encontrar no período carnavalesco.

Antes de tudo, é preciso ressaltar quem manter banheiros químicos limpos custa dinheiro. Mas alguns órgãos públicos e até empresas, para cortar gastos, contratam menos banheiros ou serviços de limpeza do que necessário sem falar que alguns foliões contribuem para a sujeira, especialmente após umas e outras.

Por outro lado, no Carnaval o aluguel de cada banheiro pode chegar a R$ 1 mil por dia, 35% acima do resto do ano.

A Consulte Saúde Ambiental atua nesse mercado há 3 anos. Os 35 primeiros sanitários já viraram 85. Gustavo Monteiro, diretor da empresa, diz que o negócio envolve também caminhões limpa-fossas. Segundo ele, durante o ano a principal fonte de lucro vem do aluguel para canteiros de obras, além de eventos diversos. “Também não adianta investir muito só no Carnaval, porque há o risco de os banheiros ficarem ociosos no resto do ano”, afirma. 

Mesmo assim, ele comemora a época da folia, de lucros mais altos. “O Carnaval aumenta a demanda em 90%. A diária fica até R$ 200 mais alta”, explica o diretor. A empresa locou todos os sanitários nesta folia, de hoje, em camarotes no Galo da Madrugada, até a Quarta-feira de Cinzas nas casas de Olinda.

“Teve gente que nos procurou ainda em dezembro. É que o Ministério Público começou a fiscalizar as casas também, às vezes com grupos de 30, 40 pessoas, muito mais gente que a capacidade dos sanitários”, detalha Gustavo.

Cada banheiro exige equipamento e gente trabalhando. Todo dia o reservatório precisa ser esvaziado por um limpa-fossas, que depois se dirige a uma Estações de Tratamento de Esgoto (ETE). Enquanto isso, o sanitário é limpo e tem os químicos substituídos.

Diretor da Jato Clean, Sérgio Pinto diz que a empresa iniciou as atividades com locação de banheiros em 2001. Eram 30 cabines de fabricação própria e um veículo para transporte. A frota chegou a 28 veículos e só um dos contratos da Jato Clean abrange os 450 banheiros do Carnaval de Olinda, sem contar sua presença também no Galo da Madrugada, entre outros.

A explosão da demanda por sanitários no restante do ano começou entre 2006 e 2007, com as obras de Suape. “Mas no Carnaval a demanda é sempre alta e bem maior” explica. 

Segundo Sérgio, a atividade passou por muitas mudanças e hoje trabalha sob o rigor de fiscalizações de CPRH, Anvisa e do Ministério Público. 

“Algumas festas já foram até embargadas e depois só liberadas quando se regularizou a quantidade de banheiros químicos contratada por elas. No final é uma coisa boa, porque também nos ajuda a prestar um melhor serviço. Com as condições certas, conseguimos prestar um serviço de excelência”, ressalta o diretor da Jato Clean.

A NOVIDADE

A Risco Zero Auto nunca trabalhou com a oferta de sanitários. Ricardo Mota, diretor da empresa, diz que o negócio da companhia são as “soluções inovadoras de mobilidade”, como câmeras adaptadas em veículos para ajudar no monitoramento da segurança pública. No caso dos banheiros VIPs, a ideia é dar um salto na qualidade do serviço, especialmente para o público feminino.

A sacada dos banheiros, embora tenha ganho notoriedade este ano, na verdade começou como uma ideia na prancheta há mais tempo do que poderia se imaginar. “Já estávamos testando o banheiro há 3 anos e agora chegou a hora de testar de verdade, no Carnaval”, conta. Ricardo ressalta que o produto real não é o banheiro em si, mas o serviço de higiene e limpeza.

“Precisamos trabalhar em parceria com os municípios, de quem precisamos de autorização inclusive para a localização dos sanitários”, ressalta Mota.

Como o Carnaval é um período de público muito grande, a estratégia da empresa tem como base concentrar alguns veículos, para poder diluir a demanda pelo serviço entre os banheiros móveis, chamados de Vrio (se pronuncia junto mesmo, “vrio”). O diretor da Risco Zero reconhece que o preço incomoda um pouco o usuário, já que o uso sai por R$ 5, de forma avulsa, e a R$ 10 com a compra de uma pulseira que vale uma diária.

“Como em vários serviços, existe fila. Mas temos que contar com a compreensão do usuário. Quem usa aprova”, afirma. Outro ponto é que as mulheres sentem falta de um espelho no interior dos sanitários, o que, por outro lado, poderia aumentar a fila do lado de fora.

A Risco Zero faz a gestão administrativa e montou parceria com a WCLoc para cuidar da coleta e destinação dos dejetos. O plano, a partir de agora, é atuar em outros eventos, desde os menores até outras datas importantes, como o São João. “Estamos ansiosos pelo resultado”, conta Ricardo.

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