Bacia leiteira de Pernambuco enfrenta mais uma crise

Depois da seca, produtores sofrem com a quebradeira das empresas compradoras do leite
Adriana Guarda
Publicado em 28/09/2014 às 5:00
Foto: Heudes Regis/JC Imagem


Primeiro foi a seca, agora a quebradeira das empresas. A crise na bacia leiteira de Pernambuco parece não dar trégua. A estiagem puxada, que fez minguar a produção, dá lugar a uma superoferta de leite por falta de comprador. Empresas como a LBR - Lácteos Brasil (Garanhuns), Nutrir Produtos Lácteos (Gravatá) e Valedourado (Palmeira dos Índios/AL) diminuíram a recepção da matéria-prima ou simplesmente deixaram de produzir. Em dificuldades financeiras, as três indústrias entraram em processo de recuperação judicial e estão devendo a fornecedores no Estado, inclusive aos produtores de leite.

Resultado da união entre a Bom Gosto e a LeitBom, a LBR comprou a antiga fábrica da Parmalat em Garanhuns por R$ 31 milhões, em 2009. Na época, o negócio foi apontado como a redenção da bacia leiteira, que sofria com a falência da italiana Parmalat. A dívida da LBR no Brasil é de R$ 647,3 milhões e ultrapassa R$ 3 milhões em Pernambuco. No plano de recuperação judicial, a empresa ACR Medical Logística fez uma oferta de R$ 50 milhões pela unidade pernambucana.

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O produtor Joaquim Almeida Macedo (conhecido na região por seu Zito) diz que um gerente da LBR esteve na sua casa para pedir que ele formasse um grupo de pecuaristas para fornecer 100 mil litros de leite por dia a empresa. “Eu estava colocando meu leite nas queijarias sem problema pra receber, mas tinha leite sobrando e às vezes nem os queijeiros conseguiam dar conta de comprar tudo. Aí resolvi vender pra eles e ficaram me devendo R$ 62 mil”, conta o pecuarista da Fazenda Poção, na Pedra. 

A legião de produtores que levaram calote se espalha por toda a região. Em Água Belas, a LBR ficou devendo R$ 30,6 mil à Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares do Vale do Ipanema (Coopanema). “Precisamos pegar dinheiro com agiota para não deixar os produtores na mão. Procuramos por eles, mas não recebemos informação sobre pagamento”, diz o presidente Francisco Justino.

Uma das cooperadas, Rita Nunes, diz que o produtor não aguenta mais sofrer. “Já penamos com a seca, tendo que gastar tudo o que tínhamos para salvar os animais e agora vem esse problema da baixa do leite com o preço muito ruim. Sem falar que o preço cai aqui, mas não baixa para o consumidor”, reclama. Enquanto o produtor recebe R$ 0,80 pelo litro, o consumidor paga entre R$ 3,40 e R$ 3,60 por uma caixa de longa vida. O mesmo acontece com o queijo coalho que no interior é vendido por R$ 9 e chega à cidade com valor entre R$ 22 e R$ 25 o quilo.

Com 16 anos de mercado, a gravataense Nutrir (conhecida do consumidor pernambucano pela marca Natural da Vaca) entrou em dificuldade financeira em 2012. “A baixa oferta de leite provocada pela seca, a consequente alta no preço e a escassez de crédito obrigou a empresa a pedir recuperação judicial”, diz o administrador judicial do processo, Sílvio Rolim. O passivo da empresa chegou a R$ 36 milhões. Desse total, R$ 3,5 milhões é a dívida com os produtores de leite.

 

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Wildes Galindo, na Fazenda São Pedro, na Pedra (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem
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Ordenha mecânica na Fazenda Poção, na Pedra (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem
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Seu Zito, na Fazenda Poção, Pedra (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem
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Fábrica da LBR, em Garanhuns(Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem
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Placa da LBR, em Garanhuns (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem
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Feira do Queijo, em Capoeiras (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem Heudes Regis/JC Imagem
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Cooperativa Mista de Agricultores Familiares do Vale do Ipanema, em Águas Belas (PE) - Heudes Regis/JC Imagem
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Rita Nunes, no Sítio Tanquinho de Baixo, em Águas Belas (Agreste de Pernambuco) - Heudes Regis/JC Imagem

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