O futuro está começando a chegar, aos pouquinhos, na sala de aula das universidades. E o mundo digital terá um lugar garantido capitaneado pela educação a distância (EAD) que está começando a fazer parte até dos cursos presenciais. A sala de aula invertida, jogos, aprendizado online e ambientes colaborativos (usando a internet) já fazem parte dos cases de aprendizado de algumas faculdades. Um exemplo é o ambiente virtual de aprendizagem (Avamed) implantado pelo Núcleo de Telessaúde (Nutes) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) com várias plataformas, indo desde uma sala de telepresença imersiva que transmite imagens em alta resolução, redes colaborativas (entre os alunos e professores), além de disponibilizar o conteúdo de algumas disciplinas online.
“Usamos a educação a distância como apoio para o presencial. Percebemos que isso traz impacto na atratividade e na qualidade do aprendizado. Na sala de telepresença, nossos alunos conversam com especialistas de outros lugares, incluindo universidades fora do Brasil. É uma forma de proporcionar um conhecimento mais global”, conta a coordenadora do Núcleo de Telessaúde, Magdala Novaes. Na plataforma, os alunos respondem questionários e têm acesso aos exames clínicos realizados no Hospital das Clínicas analisados em sala de aula. “Antes, as informações eram enviadas por e-mail. O conteúdo era pobre. Não podiam ser enviadas informações pesadas e nem exames clínicos”, diz a estudante Cecília Gonçalves Bezerra, que faz o 4º período de Medicina da UFPE. A plataforma digital não conta com a adesão de todos os docentes do curso, pois há resistência às novas tecnologias.
Nem tudo é só tecnologia nas mudanças que vêm por aí. A Faculdade Pernambucana de Saúde (FPS) utiliza um método no qual o estudante é provocado a resolver um problema ou desafio, similar a aula invertida. “Isso treina o aluno para buscar conhecimento ao longo da vida, resultando num estudante mais questionador, autônomo e curioso”, diz o diretor acadêmico da FPS, Carlos Figueira.
As iniciativas adotadas por ambas instituições estão desenhadas num estudo chamado NMC 2014: Panorama tecnológico para as universidades brasileiras, elaborado por 41 especialistas brasileiros que apontaram novas tecnologias – algumas já usadas – que devem nortear o ensino, a aprendizagem e a investigação criativa. “Ainda há muito que avançar, porque não estamos falando apenas de plataformas e dispositivos, mas sim de práticas de ensino, como a sala de aula invertida”, conta o diretor de novos negócios do Grupo Saraiva, Otello Bertolozzi Neto. A Saraiva foi uma das patrocinadoras do estudo e baseada nele desenvolveu uma plataforma de aprendizagem adaptativa, que direciona a trajetória do estudante de acordo com o seu desempenho, reforçando os conteúdos que precisam ser aprimorados. Ela será usada por 3 mil estudantes de direito que se preparam para os exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“O mercado de objetos de aprendizagem cresce a cada ano”, conta a diretora de negócios da empresa Mídias Educativas, que começou apenas com os seus quatro sócios em 2008. Hoje, emprega mais 10 pessoas além dos donos. A empresa desenvolve produtos digitais para educação.
As novas metodologias também impactarão em outra mudança. “Temos que romper uma longa tradição brasileira do aprendizado dependente. Os professores devem estimular o aprendizado independente. No futuro, o professor vai ficar mais parecido com o designer educacional. A educação será ao longo da vida. O que se aprendeu é menos importante. E o mais importante será aprender o processo pelo qual se aprende”, resume o físico Ronaldo Mota, autor do livro Educando para a Inovação, escrito em co-autoria com David Scott.
“Também é importante uma educação que fomente o empreendedorismo. O mundo futuro não é o do emprego. É o de explorar oportunidades”, afirma Mota. E complementa: “o grande profissional do futuro não é o que sabe ou não, mas aquele que dada uma missão consegue resolver”. Segundo ele, o ensino superior do futuro será híbrido misturando a forma presencial com a EAD.