Morre Heitor Maia, arquiteto do modernismo e dos supermercados

Ele trouxe nova interpretação arquitetônica para os supermercados de rua erguidos no Recife
Do JC Online
Publicado em 29/12/2014 às 19:49
Ele trouxe nova interpretação arquitetônica para os supermercados de rua erguidos no Recife Foto: NE10


Morreu na manhã desta segunda-feira (29), no Hospital Português, bairro da Ilha do Retiro, em decorrência de complicações pulmonares, o arquiteto Heitor Maia Neto, de 86 anos. Ao lado de nomes como Delfim Amorim e Acácio Gil Borsói, Maia Neto foi um dos precursores do modernismo na escola de arquitetura em Pernambuco e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da linguagem modernista nos prédios erguidos no Recife a partir dos Anos 60. 

Outro feito do profissional foi trazer nova interpretação arquitetônica para os supermercados de rua erguidos na capital pernambucana durante sua passagem pelo Grupo Bompreço, onde projetou dezenas de lojas da companhia nas décadas de 60, 70 e 80. Heitor Maia Neto sofria do Mal de Parkinson, mas estava hospitalizado após cirurgia para retirar úlcera na veia aorta. Deixa a esposa Zélia Maia e seis filhos. 

Seu ex-patrão João Carlos Paes Mendonça destacou a importância do trabalho de Heitor Maia Neto para o sucesso da operação supermercadista. “Era um excelente profissional. Nos conhecemos na década de 60 para a construção da primeira loja do Bompreço. Ele projetou a unidade de Casa Amarela e, na sequência, outras grandes e importantes lojas, como a de Boa Viagem, Arruda, o escritório da Caxangá. Nos acompanhou, inclusive, no crescimento da rede em outros Estados. Nos tornamos amigos. É uma grande perda”, disse o presidente do Grupo JCPM. Nos anos 2000, o empresário repassou toda a operação do Bompreço.

“Heitor fez uma escola de arquitetura em Pernambuco, com Borsoi e Delfim Amorim. Com esses professores, a década de 60 ficou marcada como um período importante da escola de arquitetura. Fui seu aluno, estagiário e arquiteto colaborador. Ele deixa um legado de linguagem de arquitetura, além de ter sido uma pessoa íntegra, honesta, de grande técnica e ética e cumpridor de seus prazos”, declarou o arquiteto, Fernando Guerra. Seu filho e arquiteto Antônio Carlos da Fonte Maia, Tota, também destacou a firmeza de conduta do pai. “Para mim, é a referência ética dentro de uma profissão que passa por uma crise de valores.”

Em matéria publicada pelo JC em setembro de 2010, Heitor Maia Neto afirmou que, dentre as suas principais obras, a que ele mais considerava, foi justamente uma que não saiu do papel, um dos marcos da fase inicial de sua carreira, período de maior liberdade criativa do profissional. “O Monumento aos Heróis da 2ª Guerra Mundial (1956), no Rio de Janeiro, foi o projeto que me deu maior projeção. Fiquei em segundo lugar num concurso internacional, com apenas 27 anos. Era um menino competindo com arquitetos experientes”, relembrou.

Maia Neto também fez fama construindo casas para a classe média alta pernambucana. Um dos projetos que sintetiza seu trabalho neste segmento é a residência de campo de Torquato de Castro (1954), em Aldeia, tida como uma das mais brilhantes realizações modernistas do Estado. A Biblioteca Popular de Casa Amarela (1951) era outra obra lembrada com carinho pelo arquiteto. 

Como professor, Heitor Neto foi um dos responsáveis pela transformação do curso de Belas Artes na Faculdade de Arquitetura da UFPE, onde atuou de 1952 a 1982. Na década de 80, o arquiteto já tinha uma profunda relação com os projetos de supermercados. Segundo ele dizia, foi João Carlos Paes Mendonça quem o convenceu a deixar a vida acadêmica para dedicar-se exclusivamente à arquitetura das lojas do grupo Bompreço. Maia Neto foi cremado na noite de ontem no Cemitério Morada da Paz, em Paulista. 

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