Lojas fechadas e movimento fraco. Este cenário se torna mais comum no Centro do Recife a cada dia, por causa da crise que assola o País. O ritmo frenético de antes, com pessoas cheias de sacolas circulando pelos bairros com comércio de rua tradicional ficou no passado. Nos dois primeiros meses de 2016, a atividade em Pernambuco recuou 10,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. A situação é pior do que a nacional: o Brasil encolheu 7,6%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ano passado, Pernambuco perdeu duas mil lojas, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Alta da inflação e do desemprego, crédito restrito e aluguel caro estão entre os motivos para a queda nas vendas. “Os setores mais afetados são os que trabalham com linha de crédito, como móveis e eletrodomésticos. Os empresários reduzem despesas e muitas vezes mudam de endereço por causa do alto valor do aluguel, mas alguns não conseguem acompanhar. A previsão para este ano é de que não haverá crescimento”, afirma o economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomercio), Rafael Ramos.
O impacto da queda da economia em setores específicos é claro. Na Rua da Palma e da Concórdia, em Santo Antônio, tradicionais pontos de venda de eletrodomésticos, muitos estabelecimentos fecharam. A Guido Móveis e Eletrodomésticos, empresa alagoana com 57 anos de existência, parou de operar no Estado e encerrou as atividades em oito unidades. Duas delas ficavam nestas vias. Entre os motivos, estão o baixo fluxo de clientes e os altos custos do mercado.
Lojas de outras marcas, como Eletroshopping e Insinuante, estampam cartazes informando mudança de endereço. A reportagem do JC procurou a Ricardo Eletro, nova dona das duas empresas, mas não obteve retorno para esclarecer a situação.
Outra alternativa dos empresários é reduzir custos. Na Rua Nova, uma Esposende fechou. A empresa decidiu concentrar as atividades em outro estabelecimento na mesma região, porque a demanda caiu. Quem permanece ativo também lamenta. “Mesmo quem consegue se manter firme em meio à crise se prejudica. Quando cai a diversidade do comércio, cai mais ainda a quantidade de clientes. Isso é ruim porque a insegurança aumenta”, lamenta o gerente da Luk Modas, Ranilson Dornelas.
Diante da crise, vale tudo para tentar atrair consumidores. Na Rua da Imperatriz, na Boa Vista, os vendedores abordam as pessoas no meio da rua. A vendedora de uma ótica no bairro Edjane Reis usa essa estratégia, mas confessa que é uma tarefa árdua, porque muita gente está só de passagem. “O cliente ganha confiança ao conhecer o vendedor. O fluxo de frequentadores do bairro diminuiu muito, por isso vou para a rua.”
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Recife, Eduardo Catão, o cenário não é exclusivo do Recife. “É mais perceptível o impacto no Centro porque é onde há maior volume de lojas. Mas isso também está acontecendo em todo o Estado e no o Brasil. Um dos problemas é a falta de investimento da parte da iniciativa pública e privada. As pessoas não estão acreditando na nossa economia.”
Enquanto os estabelecimentos comerciais do Centro fecham, as ruas são tomadas pelos ambulantes. Vendendo de tudo um pouco, como brinquedos e roupas, a preços baratos, o comércio informal ganha espaço. Na falta de empregos formais, vale tudo para sobreviver.
De acordo com Rafael Ramos, este é um reflexo do alto índice de desemprego. Atualmente, o Brasil tem mais de 9 milhões de pessoas desocupadas. “É uma pessoa que perdeu o emprego e não quer depender de parentes e amigos. Porém, a mortalidade do negócio informal é grande, porque geralmente surge de um momento de necessidade, sem planejamento”, explica.