Dia do Trabalhador é o pior em uma década

Desemprego acelerado e incertezas sobre política econômica preocupam mercado de trabalho
Da editoria de economia
Publicado em 01/05/2016 às 13:35
Desemprego acelerado e incertezas sobre política econômica preocupam mercado de trabalho Foto: Fotos Públicas


Todos os dias, 3.546 pessoas perdem o emprego no Brasil. Nos três primeiros meses deste ano, 319,1 mil postos de trabalho já foram fechados. Na história do País não há registro de tantas demissões em tão pouco tempo. A velocidade no fechamento de vagas sinaliza que este ano será ainda pior do que 2015, quando a porta do emprego se fechou para 1,5 milhão de pessoas. Hoje 11,1 milhões de brasileiros estão desempregados. É como se toda a população do Rio Grande do Sul estivesse sem trabalho. Muitas centrais sindicais decidiram não comemorar o dramático 91º Dia do Trabalhador, celebrado neste 1º de maio.

É verdade que o Brasil já teve taxas de desemprego mais altas, mas o que preocupa agora é o ritmo de fechamento das vagas e a dificuldade de recolocação, em função da dimensão temporal que a crise econômica está tomando. No ano passado, a taxa média anual de desemprego medida pelo IBGE chegou a 6,8%, a mais alta dos últimos 6 anos (em 2009, ficou em 8,1%). Pela Pnad Contínua, que calcula a desocupação trimestral, a taxa de janeiro a março alcançou 10,9%, a mais alta desde o início da série, em 2012.

O desemprego tem um efeito devastador na vida das famílias. Corrói as economias, exige corte de gastos e rebaixa o padrão de consumo. Na casa da soldadora Josenilda Maria da Silva, 37 anos, a vida mudou com a perda do emprego. “Precisamos tirar nossa filha da escola particular e o padrão da família mudou. Quando eu e meu marido estávamos trabalhando em Suape, conseguimos reformar a casa, comprar um carro zero quilômetro e dar uma educação melhor às nossas filhas. Agora, com os dois desempregados há mais de um ano, vivemos da ajuda da minha mãe aposentada e do Bolsa Família, em que conseguimos fazer o cadastro recentemente”, conta.

Neka (como é conhecida) se tornou soldadora no momento de euforia econômica vivido por Pernambuco. Ela trabalhou no Estaleiro Atlântico Sul e na Refinaria Abreu e Lima, numa época em que o Estado ocupava o topo da lista na geração de empregos no País. Em 2010, por exemplo, foram criadas 121,7 mil novas vagas por aqui. Com a desmobilização da obra da Rnest a partir de 2014 e o encolhimento da atividade dos estaleiros, em função das investigações da Lava Jato, houve uma inversão e Pernambuco figura entre os Estados com a maior perda de vagas. Em 2015, o fechamento de vagas ficou em 88,7 mil e só no primeiro trimestre deste ano já está em 40,6 mil.

“A onda veio, subiu e morreu. Quem conseguiu surfar nela teve sorte. Hoje Pernambuco sofre com a crise econômica e com o fracasso dos empreendimentos. Suape chegou a ter 60 mil empregos e hoje se resume a 2 mil. Muitas empresas faliram e foram embora sem pagar as rescisões”, diz o presidente da Força Sindical em Pernambuco, Rinaldo Júnior.

A professora de economia da PUC São Paulo, Anita Kon, acredita que a retomada do emprego só deverá acontecer a partir do final de 2017. “Depois que a questão política for resolvida, ainda leva tempo para o empresariado confiar em voltar a investir e mais tempo ainda para as contratações serem retomadas”, explica.

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