A futura privatização da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) vem aumentando a discussão em torno do uso das águas do Velho Chico. “O São Francisco é um patrimônio do Brasil e do Nordeste e não do setor elétrico”, disse ontem o ex-presidente da Chesf e atual deputado federal, José Carlos Aleluia (DEM). Para ele, o setor elétrico vem tratando o São Francisco de “forma irresponsável”.
Atualmente, o São Francisco passa por uma das maiores secas dos últimos 80 anos e a vazão de Sobradinho – o maior lago do Nordeste – está em 600 metros cúbicos por segundo, a menor da sua história. Sobradinho estava ontem com 8,55% do seu volume útil.
Para o parlamentar, a atual situação de Sobradinho ocorreu porque, desde 2014, o lago não foi operado de forma prudente, gastando muita água para produzir energia. Depois disso, não choveu o esperado e o reservatório não conseguiu recuperar o seu volume. “A operação de Sobradinho é feita com a autorização do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)”, diz. A Chesf é quem opera o reservatório.
“Não sou contra a privatização da Eletrobras. Mas existem três empreendimentos que não podem entrar nessa privatização: a usina nuclear (a Eletronuclear), Itaipu, por ser binacional, e as hidrelétricas do São Francisco”, defende.
“O São Francisco é utilizado para a produção de alimentos, abastecimento humano, a transposição das águas e a pesca. Imagine o que pode ser esse rio passar a ser explorado por uma empresa privada que não tenha compromisso com o seu múltiplo uso”, comenta o parlamentar. Ele acrescenta que a União deveria desenvolver um modelo que destinasse recursos à Chesf e à Companhia do Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) para serem empregados na revitalização do Velho Chico. “Em Xingó, já se pesca peixe de água salgada”, conta. Numa situação normal, os peixes de água salgada deveriam estar mais próximos ao litoral.
E, por último, o deputado dá um ultimato: “Dilma matou a Chesf retirando as hidrelétricas da estatal, que eram a joia da coroa. A Chesf deixou de ser uma produtora de energia para ser uma operadora. Essa Lei 12.783/13 foi o maior desastre do setor elétrico”, conclui. Ele foi presidente da Chesf entre 1986 e 1989.