Bolo de rolo: um doce sabor na economia de Pernambuco

Receita tradicional da cultura do Estado é o carro-chefe de diversas empresas, que chegam a produzir uma tonelada do bolo por dia
Luiza Freitas
Publicado em 05/11/2017 às 7:15
Foto: Foto: Leo Motta/JC Imagem


A receita ainda é coberta pelos mesmos cristais granulados que Gilberto Freyre afirma serem necessários para compreender o homem do Nordeste em seu livro Açúcar - Uma Sociologia do Doce, da década de 1930. Na publicação, o bolo de rolo aparece ao lado de outras tantas sobremesas típicas de um Pernambuco ainda canavieiro. Nossa matriz econômica se transformou, mas o bolo permaneceu enrolado e com camadas cada vez mais finas. Foi da cozinha de famílias tradicionais para as prateleiras de lojas e supermercados. Patrimônio imaterial do Estado, é carro-chefe de empresas que o fabricam às toneladas. Uma tradição que virou negócio.

Parte disso é responsabilidade da Casa dos Frios, que há 60 anos transformou a receita em mercadoria. “Dizem que a atual receita foi criada por uma família de Pesqueira, parente da minha avó. O fato é que comecei a vender os bolos que fazia para meus filhos. Consegui essa receita, que começou a ser feita para nós por uma só pessoa, Dona Ana”, conta a fundadora da marca, Fernanda Dias, 83 anos.

Hoje a empresa produz diariamente 800 quilos e, neste fim de ano, mais 20%. Tudo é concentrado na fábrica exclusiva de bolo de rolo, localizada na Imbiribeira, Zona Sul do Recife, onde trabalham 22 funcionários de terça-feira a sábado. “Viemos para a nova planta no início de 2016 para aumentar a produtividade”, afirma o diretor comercial, Ricardo Batista, 23 anos. Esse planejamento foi necessário para atender os dez novos quiosques que serão abertos fora do Estado, para onde vão atualmente 40% dos produtos.

Natural de Serra Talhada, Rosinha Magalhães vende o bolo em Brasília (Fotos: Divulgação)

A necessidade de representar a cultura através de um sabor também foi a motivação para a chef Rosinha Magalhães, natural de Serra Talhada, no Sertão, produzir o bolo em Brasília. “Comecei com confeitaria tradicional, mas o negócio acabou perdendo o foco. Então recebi apoio para focar no bolo de rolo e deu certo. Mas mantenho a produção artesanal, só aceito encomendas se tiver condições de entregar dentro do meu padrão”, diz. Um dos principais pedidos é o bolo para casamentos, que demanda 30 folhas de massa em cada andar e pode sair por R$ 1.100 – servindo de 150 a 200 pessoas. Gilberto Freyre diria que vale cada fatia do que dizia ser parte da “doçaria mais vistosa que em qualquer outra parte do mundo”.

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