Elas representam apenas 1% do bilionário mercado de cerveja no Brasil, mas crescem num ritmo de quase 40% ao ano. As primeiras cervejarias artesanais surgiram na região Sul em 1995, mas hoje são realidade em todos os Estados brasileiros. A explosão do setor ganhou força a partir de 2010, quando existiam pelo menos 30 empresas. Atualmente são 679 estabelecimentos espalhados pelo País, com Pernambuco ocupando a 8ª posição. O Estado conta com 20 cervejarias artesanais e dez delas surgiram só no ano passado. E não vai parar por aí, porque estão se multiplicando o número de cervejas ciganas. São empresas que criaram seus rótulos, mas utilizam o parque fabril de terceiros porque não dispõem de estrutura de produção.
Criada há dois anos, a Ekäut é exemplo de cervejaria artesanal que está num processo de crescimento e profissionalização. Os três sócios fundadores Diogo Chiaradia, André Turton e Bruno Paes a investidores da NE Capital e da ikewai para capitalizar o negócio. Com os recursos está em andamento um projeto de expansão que vai triplicar a capacidade de produção da indústria, localizada no bairro recifense da Guabiraba. “A atual capacidade é de 30 mil litros por mês e em abril vamos chegar a 90 mil l/mês. E num prazo de 2 a 3 anos esperamos alcançar 200 mil l/mês”, adianta Chiaradia.
O parque fabril da Ekäut também abriga as cervejas ciganas. Atualmente produzem por lá as marcas Estrada e Quatro Cantos e até fevereiro chegam mais duas. Presente no pequenos varejo em bares, restaurantes e empórios, a Ekäut foi a primeira artesanal do Nordeste a colocar sua marca no auto-serviço, entrando na rede Pão de Açúcar. Hoje está em 550 pontos de vendas no Grande Recife e faz planos de ampliar sua atuação no Nordeste.
O mercado das cervejarias artesanais também tem espaço para pequenas-ousadas como a Patt Lou, criada pelo casal de enfermeiros Patrícia e Luiz Miguel Sanches. Professor de enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco no campus de Vitória de Santo Antão (Zona da Mata pernambucana), ele comprou um terreno no município e ergueu a cervejaria. Fizeram cursos técnico em cervejaria e desenvolveram o negócio, com investimento de R$ 220 mil. “Meu capital era de apenas R$ 20 mil. Financiei o restante e estamos tocando o projeto. Começamos em 2016 com 500 litros de cerveja por mês, hoje fazemos 4,5 mil e nossa meta é chegar em junho com 7 mil”, conta Luiz, que já tem área física para expandir a fábrica. Mesmo pequena, a Patt Lou também também produz cerveja para nanociganas em seu parque. Atualmente são sete rótulos e serão mais dois em março. Com as parcerias são 23 marcas, seis próprias e o restante das ciganas.
Na Capunga, a novidade este ano será o lançamento da primeira cerveja artesanal em garrafa de um litro e em lata de 473 ml. As novas embalagens vão se juntar às versões de 330 ml e 600 ml. “A lata é uma das melhores formas de armazenagem de cerveja para evitar a incidência de luz”, explica um dos sócios da empresa, Victor Lamenha. No ano passado, a Capunga investiu R$ 1,5 milhão para inaugurar uma fábrica própria no município de Igarassu. Com três anos de mercado, a microcervejaria começou produzindo mil litros e hoje já são 30 mil litros por mês. “Para este ano queremos fazer 40 mil litros e estamos muito satisfeitos com o desempenho dos nossos produtos. Em 2017, a Capunga Lager liderou o faturamento de cervejas da Casa dos Frios. Não só das artesanais, mas do portfólio geral”, comemora.
Apesar do crescimento exponencial do negócio das microcervejarias no Brasil, o setor responde por apenas 1% do mercado cervejeiro nacional. “Ainda existe muito espaço para crescer, mas é preciso estimular a cultura do consumo das artesanais. Nos Estados Unidos e na Europa já existe um hábito de consumo consolidado, mas o brasileiro ainda está se adaptando a uma cerveja mais encorpada e amarga. Nossa fábrica tem capacidade para produzir 150 mil litros por mês, mas vamos crescer junto com a demanda do mercado”, diz Thomé Calmon, um dos sócios da pioneira DeBron.
Outro desafio das artesanais é se fazer perceber pelos governos. Tributação e regulamentação do setor estão na pauta. A partir deste ano as microcervejarias vão de enquadrar no Simples. “O setor tem uma carga tributária que chega a 55% isso interfere no preço final e na democratização do produto”, observa um dos sócios do Instituto da Cerveja (SP), Estacio Rodrigues.