'Aqui não nasce nada': Desertificação é drama no semiárido nordestino

Série de reportagens do JC traz cenário desolador: 13% do semiárido sofre com a desertificação
Angela Belfort e Adriana Guarda
Publicado em 03/11/2019 às 6:00
Foto: Foto: Filipe Jordão/JC Imagem


“Aqui não nasce mais nada. Nem cacto, nem capim. Não dá para criar gado, porque também não há pasto”, conta o produtor rural Cristian Diniz Simões de Medeiros, conhecido como Barná Russo. Lá, o solo ficou pobre, infértil, com características da desertificação, mesmo com uma parte do terreno às margens do Rio São Francisco, em Cabrobó, a 532 km do Recife. No semiárido brasileiro, 13% fazem parte desse cenário desolador, como mostra o monitoramento feito pelo Laboratório de Análises e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) ligado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). São cerca de 126.336 km² em processo de desertificação no semiárido brasileiro, incluindo todos os Estados do Nordeste, o Norte de Minas Gerais e uma parte do Espírito Santo.

A desertificação ocorre principalmente por causa da ação do homem, resultando num solo pobre em que a terra não consegue mais ser usada para a agricultura. No terreno de Barná, quando chove, o chão fica cor de barro. Ao estiar, o solo se torna branco, com cristais de sal. “Durante muitos anos, plantei arroz. Trabalhei erradamente porque não tinha o conhecimento. Fiz irrigação por inundação sem dreno porque não sabia que isso podia fazer mal ao solo”, resume. O excesso de água na superfície contribuiu para a salinização da terra.

“Hoje tem o conhecimento, mas não tenho condições de colocar os drenos”, diz. Para Barná, a única forma de recuperar a fertilidade daquela área seria implantar um sistema de dreno para jogar o sal da superfície no rio. “Com isso, a terra voltaria a ficar normal em uma década”, revela. O processo de desertificação do terreno começou há 15 anos.

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