Sob o olhar de Nossa Senhora, Morro da Conceição é comunidade de altas conexões

Quem sobe o Morro da Conceição pode não perceber, mas lá acontece uma revolução silenciosa que fomenta o surgimento de novos negócios e dinamiza a economia local
Lucas Moraes
Publicado em 07/12/2019 às 16:30
Foto: Foto: Leo Motta/JC Imagem


Com o celular na mão, do alto do Morro da Conceição, Thiago Barbachan, 34 anos, costuma acompanhar a variação dos papéis de empresas listadas na B3 – bolsa de valores brasileira. Isso quando não está atualizando seus aplicativos que monitoram os gastos com as empresas que ele administra, os quilômetros rodados com o carro ou o app que compara preços para a compra de produtos do seu mais novo empreendimento: um mercadinho online. O que para muitos pode parecer dissonante em se tratando de um morador da periferia do Recife, faz parte de uma realidade cada vez mais constante nos subúrbios, sobretudo no Morro, que acumula histórias de fé do seu povo. Um população antenada com os avanços trazidos pela internet, gerando melhoria de renda para alguns e novas possibilidades profissionais para todos.

Quem sobe o Morro da Conceição pode não perceber, mas lá acontece uma revolução silenciosa que fomenta o surgimento de novos negócios e dinamiza a economia local. Impulsionadas pela maior conexão dos moradores à internet, as mudanças tomam conta das ruas, estão dentro de pequenos estabelecimentos comerciais e da vida das pessoas. “Desde quando cursava o ensino médio, vim morar no Morro da Conceição, mas a história da minha família aqui é muito grande. Meu avô foi um dos primeiros comerciantes da região. Hoje, para ser honesto, minha vida é uma loucura. Eu tenho uma empresa de projetos, sou servidor, e agora tenho esse novo negócio há pouco mais de um mês e meio”, conta Barbachan.

O jovem empreendedor sintetiza bem um novo perfil de moradores do bairro, que, ligados às inovações tecnológicas, empreendem e trazem resultados para si e toda a comunidade. No Morro, segundo o último Censo do IBGE, de 2010, 36,45% dos domicílios apresenta renda mensal de meio a um salário mínimo. No Recife como um todo, esse índice é de 25%. “Antes, eu vendia coxinha na escola, influenciado até mesmo pelo trabalho do meu avô, que tinha uma mercearia. Depois, abri um comércio muito maior, num espaço cedido pelo meu sogro, e foi quando se criou uma dinâmica de comércio, até o depósito que mantenho agora para guardar os produtos do Feira InKasa”, detalha o empreendedor, formado em engenharia de pesca, com pós-graduação em segurança do trabalho, e que investiu R$ 17 mil – maior parte do valor como fruto de retorno dos investimentos na bolsa – no negócio, com website, vendas via redes sociais e comercialização física. “A gente tem conseguido aos pouquinhos trazer o cliente do presencial para a compra via WhatsApp. Do meu total de vendas, o online ainda representa no máximo 30%. É uma luta, mas as pessoas estão começando a entender isso”, conta.

Com as vendas online, Thiago começa a dar um novo salto na revolução, agora transformando os hábitos de compra dos moradores do Morro. Conforme o IBGE, eles chegavam a ter um rendimento médio de R$ 655 em 2010, enquanto o rendimento médio dos moradores da capital pernambucana era de R$ 1,5 mil, 41% a mais.

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