Numa tentativa de tentar frear a corrupção e se distanciar de escândalos relativo ao Mundial no Brasil, em 2014, a Fifa vai assumir praticamente sozinha a realização das próximas edições da Copa do Mundo, esvaziando o trabalho do Comitê Organizador Local a partir de agora e tomando as rédeas até mesmo da venda de ingressos. Há dois anos, o Comitê criado no Brasil recebeu US$ 440 milhões da Fifa para ajudar na organização do Mundial.
Com a estrutura existente no País, a Fifa não conseguiu evitar que o Mundial fosse usado politicamente por dirigentes e partidos locais. Além disso, quem assumiu a operacionalização de grande parte do evento foi a própria CBF.
O resultado foi uma pressão de dirigentes brasileiros para inchar o evento. O grupo que comandava a CBF colocou o torneio em doze estádios - e não oito como pedia a Fifa - e passou a controlar bilhões de reais em transferências de Zurique ao Rio de Janeiro. No Brasil, a estrutura da Copa chegou a passar até mesmo por consultas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em escolhas que envolviam também critérios políticos.
"A Fifa vai trabalhar para implementar um novo modelo operacional, mais eficiente, para a organização da Copa do Mundo, deixando um comitê organizador local administrado por funcionários de um país para uma estrutura centralizada", explicou a entidade.
Fontes do alto escalão da Fifa confirmaram à reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que foi a experiência do Brasil que levou a entidade a repensar a forma de organizar os Mundiais. A atividade do COL do Mundial do Brasil passou a ser alvo de investigações, inclusive de CPI no Brasil e do FBI, nos Estados Unidos, que apura as relações entre Teixeira e o ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke.
No Brasil, foi Teixeira quem definiu a exclusão do Morumbi e a construção do Itaquerão, hoje sob investigação. Ele barganhou com governadores quais seleções jogariam pelo País. Já Valcke vendeu, ainda em 2006, um plano por US$ 100 mil para a CBF para ajudar na candidatura do País para receber o evento, mesmo sem a existência de um concorrente.
Agora, a Fifa quer colocar um fim a tudo isso. Pela nova estrutura, a entidade em Zurique terá "garantias de um controle total e final sobre os gastos do Mundial". A Fifa também vai equiparar os gastos com outros eventos esportivos internacionais, além de estabelecer um "controle centralizado" de todo o fluxo de dinheiro ao país-sede, inclusive em 2018 na Rússia. Para 2022, uma nova estrutura está sendo avaliada para garantir "total controle do fluxo de dinheiro".
Em relação às vendas de ingressos, a Fifa também vai assumir o controle depois dos escândalos envolvendo a Match. Em 2014, a agência contratada pela entidade foi alvo de uma investigação no Brasil e teve até um de seus diretores detidos. Um ano depois, a reportagem do Estadão revelou como o ex-secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, negociou a venda ilegal de entradas e foi afastado. "Um novo modelo de transparência estará finalizado até final de 2018", diz o plano.
O projeto também prevê que licitações sejam abertas para todos os contratos da Fifa, num esforço de trazer maior transparência, além da publicação de todos os salários. Uma nova política de compensações também será adotada, com a meta de prevenir abusos, incluindo uma redefinição dos benefícios aos conselheiros da entidade.
"Na Copa, todos sabemos que tivemos problemas", disse Infantino. "Um ex-dirigente me dizia que ingresso vai junto com escândalo. Vimos problemas que temos de lidar com esses problemas. Vamos respeitar o contrato de 2018 na Rússia. Mas um novo sistema de monitoramento vai existir para 2018. Mas, para o futuro, vamos avaliar como podemos fazer isso de forma diferente", completou Infantino.