A Fifa negocia com a CBF um acordo para que cerca de US$ 100 milhões (aproximadamente R$ 316 milhões, na cotação atual) sejam enviados pela entidade para projetos no País, mas sem passar pelas mãos dos cartolas brasileiros. O valor era uma promessa que a entidade havia realizado depois da Copa de 2014 e serviria como "legado" do Mundial. Mas com o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, indiciado nos Estados Unidos, a Fifa congelou qualquer repasse ao Brasil.
Em dezembro, uma delegação da CBF viajou a Zurique para tratar do tema. Os projetos da entidade foram apresentados. Mas o grupo não conseguiu desbloquear os recursos que há mais de dois anos estão congelados em contas na Suíça.
Agora, a sugestão que está sobre a mesa é de que a Fifa aplique o dinheiro, sem passar pelos cartolas brasileiros e da forma que quiser no País. Assim, os recursos não entrariam na contabilidade da CBF e nem teriam qualquer relação com Del Nero. A proposta vai ser estudada pela Fifa.
Advogados envolvidos no caso revelaram ao Estado que o principal obstáculo para o repasse via CBF era a presença de Del Nero na presidência da entidade. Nos EUA, a entidade máxima do futebol ainda tenta provar que foi vítima de cartolas e que não é uma organização criminosa. Mas, para isso, precisa romper qualquer tipo de relação com as pessoas indiciadas ou detidas.
Del Nero é acusado de corrupção e de ter recebido propinas em troca de acordos comerciais. Se deixar o Brasil, ele seria detido e extraditado para enfrentar um julgamento nos Estados Unidos.
Na avaliação dos advogados, se a Fifa fizer a transferência de US$ 100 milhões para Del Nero, pode minar sua própria defesa diante dos tribunais norte-americanos. Mas tudo isso pode ser contornado com um modelo em que a Fifa aplicaria diretamente os recursos no Brasil.
Em documentos enviados à corte americana, a Fifa de fato acusa Marco Polo Del Nero, além de José Maria e Ricardo Teixeira, de "corrupção" e de terem prejudicado a "reputação" da entidade máxima do futebol. Apenas pelos danos causados pelos dirigentes brasileiros, a Fifa solicitou à Justiça americana que seja reembolsada em US$ 5,3 milhões (R$ 16,8 milhões).
Del Nero e Teixeira foram membros do Comitê Executivo da Fifa e, segundo a entidade, teriam absorvido US$ 1,67 milhão (R$ 5,28 milhões) e US$ 3,5 milhões (R$ 11,1 milhões) respectivamente dos cofres da Fifa em gastos de viagem, hotéis e salários, sem contar o impacto sobre a reputação. Já Marin consumiu US$ 114 mil (R$ 360 mil).
Segundo a Fifa, os três cartolas brasileiros ocuparam "posições de confiança na Fifa e em organizações nacionais". "Ao longo dos anos, eles abusaram de suas posições para se enriquecer, enquanto causavam danos significativos para a Fifa", indicou o documento oficial enviado para a Justiça americana.
Em um recurso apresentado ao Ministério Público dos Estados Unidos, a Fifa estima que precisa receber pelo menos US$ 28 milhões (R$ 88,5 milhões) do dinheiro já coletado pela Justiça do país dos cartolas. Além disso, a Fifa estima que teria direito a US$ 10 milhões (R$ 32 milhões) pelo esquema de compra de votos para a definição das sedes das Copas de 1998 e 2010, além do custos de advogados - cerca de US$ 10 milhões por mês.
Até hoje, a Justiça americana já recuperou mais de US$ 300 milhões (R$ 950 milhões) dos cartolas do futebol. Só o empresário brasileiro José Hawilla já pagou como multa à Justiça dos Estados Unidos cerca de US$ 151 milhões (R$ 477 milhões).
Aos dirigentes da Fifa, advogados nesta semana explicaram que a devolução da "indenização" que a entidade hoje pede só ocorrerá quando todos forem condenados ou os processos encerrados. Isso, porém, pode ficar para 2018.