Uma parceria envolvendo o Ministério Público de Pernambuco, a Federação Pernambucana de Futebol, das Polícias Civil e Militar de Pernambuco e os três grandes clubes do Recife irá promover ações nos estádios para combater práticas racistas no futebol. A campanha "Diga Não ao Racismo" irá entrar nos estádios pernambucanos durante o mês de novembro, mês da consciência negra, com faixas, placas e informações nas redes sociais para incentivar pessoas que sofreram com o racismo para denunciar uma prática que é cada vez mais abominável na sociedade.
O primeiro jogo que deverá contar com a campanha será o clássico desse domingo entre Santa Cruz e Náutico, no estádio do Arruda. Ao todo, oito partidas realizadas em Pernambuco serão contempladas com a ação. A articulação também pretende atingir o sistema de justiça e de segurança, garantindo que os casos de racismo tenham o encaminhamento legal mais eficiente e cumprir, de maneira efetiva, à legislação já existente sobre os casos de injúria racial e evitar a sensação de impunidade que existe nas praças esportivas.
"O racismo tem inúmeras maneiras de se manifestar. E é até difícil você identificar em alguns momentos. A sutileza do gesto é tamanha que é preciso reunir o contexto da condição que ele ocorreu. O racismo é um crime e, como tal, precisa ser enfrentado e combatido. A campanha visa repercutir isso, para que as pessoas compreendam a gravidade dessa prática e, na medida do possível, evitar que isso ocorra. E a contribuição dos estádios é fundamental para envolver todo o mundo do futebol, desde árbitros, das diretorias, dos jogadores e dos torcedores e fazer com que eles se fortaleçam em fazer a denúncia", afirmou a coordenadora do Grupo de Trabalho de Enfrentamento à Discriminação Racial (GT Racismo) e procuradora de Justiça, Maria Bernadete Figueiroa.
De acordo com o presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, a campanha será integrada com as outras já existentes por parte da CBF. "A gente participa dessa parceria com a maior satisfação. Já era um compromisso da FIFA e da CBF com as ações da campanha "Somos Todos Iguais", e agora nós também integraremos a campanha "Diga Não ao Racismo", concluindo e formalizando tudo numa única campanha que vise exterminar qualquer simbolismo ou ação racista", afirmou Evandro.
"A lei de racismo já completa 20 anos e a sociedade brasileira precisa tomar mais consciência deste fato, que é muito grave. É importante lembrar que os crimes de racismo, na maior parte dos crimes de racismo são de ações públicas incondicionadas. Ou seja, o Ministério Público não precisa ser convocado. Só o fato de tomarmos conhecimento, nós podemos tomar as providências, tanto do torcedor, quanto dos jogadores. Primeiramente nós vamos entrar com uma campanha de prevenção e, se for preciso, utilizar a lei para tomar medidas contra este fato", declarou o procurador-geral de Justiça de Pernambuco, Francisco Dirceu Barros.
O lançamento oficial da campanha ocorreu na manhã desta terça-feira (31), na sede do Ministério Público de Pernambuco, na Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, no centro do Recife. Além dos representantes do Ministério Público e da FPF, participaram do encontro o deputado estadual Osséssio Silva (PRB), autor de uma lei que exige a exibição, nos estádios pernambucanos, de placas com os dizeres "Diga Não ao Racismo" e representantes dos três grandes clubes do Recife: o presidente do Náutico, Ivan Pinto da Rocha, o vice-presidente do Santa Cruz, Constantino Júnior, e o vice-presidente de responsabilidade social do Sport, Fábio Silva. Entre os atletas, vestiram a camisa da campanha o goleiro Jefferson, do Náutico, e a atacante Ary Borges, da equipe feminina do Sport e com convocações para a seleção brasileira sub-20.
"É importante vir aqui, representar o Sport de qualquer forma. É o Sport que a gente carrega. Mas entra aqui também a minha questão pessoal. De ser mulher, de ser negra e poder estar aqui representar a minha raça e o meu clube", declarou a atleta rubro-negra.
Um dos símbolos do racismo no futebol brasileiro, o atacante Grafite, do Santa Cruz, não pode participar do lançamento da campanha. De acordo com Constantino Júnior, o jogador participou de um outro evento, também ligado no combate ao racismo, no Rio de Janeiro, e não conseguiu chegar a tempo no Recife. O dirigente afirmou ainda que Grafite irá participar de forma mais ativa ao longo da campanha. "Vamos fazer o possível para incluí-lo na campanha com vídeos e ações nas redes sociais, para que a gente possa combater a intolerância e ampliar a questão do respeito às diferenças", afirmou o dirigente tricolor.