Aflitos, o palco onde nasceu o 'Hexa é luxo'

Timbu construiu maior conquista de sua história dentro do estádio de Rosa e Silva
Karoline Albuquerque
Publicado em 14/12/2018 às 7:08
Timbu construiu maior conquista de sua história dentro do estádio de Rosa e Silva Foto: Arnaldo Carvalho/JC Imagem


Hexa é um luxo tão grande que nem a seleção brasileira, maior campeã do mundo, conseguiu alcançar o feito (ainda). Está presa ao penta, assim como os rivais de quem brada, ao proferir a dita frase. Dos seis títulos seguidos do Náutico entre 1963 e 1968, quatro foram conquistados dentro do estádio dos Aflitos, para a felicidade dos mais saudosos alvirrubros.

“Esse time do Náutico do hexa levou muito pau em 61 e 62. Não surgiu da noite para o dia em 63. Bita começou a jogar em 62, Nado já vinha jogando desde 59, Nino chegou nessa época, Lala foi de 63, Gena só chegou no time em 64. Foi uma questão de paciência esperando que houvesse o amadurecimento dos jogador, para que ele chegasse não como salvador, mas como uma coisa nova para ajudar o time a crescer”, comentou Lucídio José de Oliveira, quando o feito fez 50 anos.

Tudo foi presenciado pelas arquibancadas da Avenida Conselheiro Rosa e Silva: o primeiro tetra, penta e, claro, hexa estadual. E muitos gols foram comemorados. Foram 286 marcados por jogadores alvirrubros em toda a campanha, uma média de quase 48 por campeonato. Sem contar os contra.

O artilheiro não poderia ser outro. O atacante Bita balançou as redes 63 vezes para a torcida mandante. Isso significa que quase um terço dos gols do jogador pelo Náutico, 28,25%, foram marcados nos seis anos do hexa, e apenas dentro dos Aflitos. O vice-artilheiro da casa foi Nino, com 47 gols. Depois, aparecem outros 25 jogadores.

Mas, o feito ficou naquela década. Os anos 1970 não foram gratos ao Timbu. “Não existe um só clube no mundo que não tenha experimentado os dissabores dessa perversa oscilação”, diz Lucídio, em seu livro O Náutico - a bola e as lembranças.
Logo que se sagrou hexa, o Timbu levou um susto. Entre 1969 e 1973, o Santa Cruz chegou ao pentacampeonato. Não poderia ficar assim.

No quarto ano daquela década, era preciso dar um freio ao Tricolor. O orgulho alvirrubro estava ferido. Assim, o time começou a ser organizado ainda na competição nacional, visando o estadual que seria disputado no segundo semestre. Orlando Fantoni passou a comandar a equipe, tendo em campo uma transferência tida por Lucídio como ousada: Betinho, então atacante do rival de três cores.

O primeiro turno, porém, mantinha a Cobra Coral com o favoritismo. A virada, porém, não tardou a chegar. Ainda nesta parte, depois de uma derrota por 1x0 no Arruda na 4ª rodada, o Náutico engrenou uma boa sequência, passou 15 jogos sem sofrer gols e venceu o returno invicto. Aguardava-se, então, a melhor de três. Que não precisou de três.

O primeiro jogo ocorreu no estádio da Avenida Beberibe. No dia de Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro, Lima fez a festa alvirrubra no mais novo estádio da capital. E seria mais uma vez o atacante a fazer com que a frase “Hexa é luxo” se concretizasse.

Nos Aflitos, três dias depois, o jogador deu de novo a vitória ao Náutico, liquidando a decisão e deixando o troféu na Avenida Rosa e Silva. Seis títulos seguidos, de fato, só um time pernambucano tem.

“Eu não esperava chegar 50 anos assim, sinceramente, para comemorar isso tudo, porque o Sport e o Santa Cruz estiveram perto de ser hexa e não conseguiram. Foi passando e estamos aí até hoje”, lembrou Ramos, autor do último gol da campanha do único hexacampeão pernambucano, quando o feito comemorou meio século. Com direito a orgulho. E luxo.

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