O Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu revogar parte da suspensão imposta ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) e devolveu à entidade brasileira seus direitos como membro de associações ligadas a comitês olímpicos nacionais. A decisão foi tomada nesta terça-feira pelo Conselho Executivo do COI. O repasse de verbas, contudo, segue suspenso.
O COB foi suspenso no último dia 6, um dia após a prisão de seu então presidente, Carlos Arthur Nuzman, no curso da Operação Unfair Play. Deflagrada pela Polícia Federal, a operação investiga suposto esquema de compra de votos para o Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos do ano passado.
A suspensão, de acordo com a regra 59 da Carta Olímpica, congelou todos os pagamentos e subsídios do COI para o COB e tirou a autorização para o comitê brasileiro exercer seus direitos de membro entre as associações de comitês olímpicos nacionais. A decisão desta terça devolve ao COB seus direitos como membro, o que permitirá que a entidade participe do encontro da Associação de Comitês Olímpicos Nacionais e da Organização Desportiva Pan-Americana (ODEPA) esta semana, em Praga, na República Checa.
Segundo comunicado do COI, desde que a suspensão foi imposta o COB passou por "uma série de ações". As mais importantes, na avaliação da entidade internacional, foram a renúncia de Nuzman, a efetivação do vice, Paulo Wanderley Teixeira, como presidente, e o processo para reforma do estatuto.
O COI destacou ainda que o comitê brasileiro está realizando uma auditoria independente que, até o momento, atestou que as contas da entidade foram devidamente auditadas e aprovadas no período que engloba as acusações enfrentadas por Carlos Arthur Nuzman, e que nada foi encontrado com as contas do comitê.
A entidade internacional alertou, contudo, que o COB segue auditando todas as suas contas e que "não haverá decisão sobre o levantamento final da suspensão provisória do COB pelo COI até que este processo seja concluído".
Uma das principais entidades que representam atletas no País está insatisfeita com a forma como está sendo tratada a mudança de estatuto do Comitê Olímpico do Brasil (COB). A Atletas pelo Brasil questiona a forma como a comissão estatuinte foi escolhida e o prazo dado para a conclusão dos trabalhos. Além disso, a organização já avisou que não abre mão de uma maior participação de atletas nas decisões do COB e promete agir caso as mudanças fiquem aquém do esperado.
A comissão de reforma do estatuto é formada por quatro pessoas - os presidentes da Confederação Brasileira de Vela, Marco Aurélio de Sá Ribeiro, de Esgrima, Ricardo Machado, e de Atletismo, José Antônio Fernandes, além do presidente da comissão de atletas do comitê, o judoca Tiago Camilo. O grupo foi escolhido em assembleia do COB realizada no último dia 11, minutos após o ex-presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, renunciar.
"O que a gente questiona, até pela questão da legitimidade, é implantarem uma estatuinte dessa forma, quais foram os critérios para a escolha e a pressa (para encerrar os trabalhos). A gente acredita que vai haver mudanças, mas queremos maior transparência", disse ao Estado o presidente da Atletas pelo Brasil, o ex-jogador de futebol Raí Oliveira.
Ao ser escolhida a comissão, o presidente do COB, Paulo Wanderley Teixeira, pediu que a redação do novo estatuto fosse votada em até 45 dias. A assembleia geral do comitê deve aprovar o documento no próximo dia 22 de novembro.
"No período final estão convidando mais pessoas para debater, mas a gente acredita que o tempo e a maneira como isso é feito deveria ter uma discussão maior", ressaltou Raí. "Poderia ser a Atletas pelo Brasil ou outra entidade, mas tinha que ser algo mais aberto, que envolvesse mais atletas, outros atores que já têm história de reivindicação no esporte."
Na última quinta-feira, Gustavo Borges, Flávio Canto, Patrícia Medrado, Magic Paula e Ricardo Vidal se encontraram com a comissão e apresentarem as reivindicações da Atletas pelo Brasil Eles pediram participação igualitária dos atletas nas eleições - atualmente, eles têm direito a um único voto num universo de mais de 40 - e flexibilização nas regras para inscrição de chapas.
Ao assumir o comando do COB, Paulo Wanderley admitiu que o processo eleitoral precisava ser reformado. Dentre as mudanças, apontou um prazo menor para inscrição de candidatos e criticou a exigência do apoio de pelo menos dez confederações para se inscrever uma chapa. Ao mesmo tempo, porém, demonstrou-se contrário à ideia de dar paridade de votos a atletas e presidentes de confederações.
Para Raí, o peso dos votos pode até ser diferente, mas não tanto quanto o atual. "A gente tem uma ideia de um processo mais igualitário, mas temos que reconhecer, até por determinação do comitê internacional, que mesmo peso talvez não seja possível. A gente quer que os atletas representem pelo menos 1/3 do colégio eleitoral, e que seja pelo menos um atleta por confederação", destacou.
Ele disse ainda que os atletas querem mais espaço não apenas nas assembleias do COB, mas também nas instâncias de governança. A Atletas pelo Brasil defende a criação de um conselho de administração e fiscalização independente, formado por atletas, ex-atletas e pessoas não ligadas a confederações esportivas.
"Tem que ser mais democrático. Esse movimento está crescendo, o interesse dos atletas que tem história, peso, opinião, está ficando cada vez maior". Nesta quarta-feira, Raí e a diretora executiva da Atletas pelo Brasil, Louise Bezerra, irão ao COB para um novo encontro com a comissão de reforma do estatuto.