Ex-atleta olímpica de ginástica, Laís Souza revelou que se enxerga mais mulher quatro anos depois do acidente que culminou em sua tetraplegia. A declaração foi feita nesta quinta-feira, antes de ela ministrar uma palestra sobre sua trajetória de superação, no Shopping RioMar, na Zona Sul do Recife. Na ocasião, Laís contou sua história no esporte – ela participou de duas Olimpíadas, entre outras experiências – e como perdeu os movimentos do corpo em um acidente de esqui. Apresentou vídeos que marcaram sua recuperação e abriu para o público fazer perguntas. O bate-papo foi descontraído, como ela gosta e se sente à vontade. Em entrevista à repórter Gabriela Máxima, ela confessou que também gosta de cuidar das pessoas que estão ao seu redor. “A questão não é só as pessoas cuidarem de mim porque eu não me mexo”, pontuou.
Para mim parece que a ficha ainda não caiu. Eu tento enxergar minha vida como um diamante. Eu tenho que cuidar da minha saúde, das minhas coisas, do meu trabalho. Eu ainda escuto muito a história das outras pessoas, por rede social ou nos encontros pessoalmente. Mas sempre me concentro em como fazer tudo da melhor forma possível e passar isso para quem me acompanha. E aí ao mesmo tempo tenho que cuidar da minha família, de todo mundo que está ao meu redor. A questão não é só as pessoas cuidarem de mim porque eu não me mexo. Eu também cuido das pessoas.
Eu tenho que pensar no que vou falar. Muitas vezes eu falo muita besteira. Não é questão de palavrão. É besteira mesmo. Penso mais na minha imaturidade e de como isso é expressado. Às vezes meu pensamento é diferente do teu, é diferente do que outras pessoas pensam. Então, tem que ter cuidado e elaborar cada palestra. Cada momento é diferente e eu estudo para cada uma das palestras. Por exemplo, aqui no Recife, tem a questão de as pessoas serem mais calorosas e a receptividade acontece de outra forma.
Os meus sonhos mudaram muito em relação à época em que eu andava para agora. Eu tenho algumas vontades que se mantiveram, mas eu fui obrigada a mudar. Um dos grandes sonhos é voltar a andar e ter mais movimentos. Mas enquanto isso não acontece eu tento explorar outras coisas. Ajuda tentar pensar mais para frente. Conhecendo mais pessoas. Sobre sonhos para o futuro, penso em ajudar crianças, abrir uma instituição.
Eu acho que a psicologia me faz muito bem. Muitas vezes, preenche dúvidas que eu tenho e acabo amadurecendo com o processo. (Psicologia) é muito importante para qualquer ser humano. Tratar a cachola porque ela é nossa ferramenta principal depois do físico. Desde o começo eu venho fazendo terapia e me ajudou muito. E aí meu interesse em psicologia vem independente do acidente. Terminei o primeiro ano da faculdade agora.
Com a psicologia eu penso que é uma área que provavelmente eu vou poder atuar no futuro. Tenho vontade de ajudar os atletas também. Pelo que eu tive de conhecimento lá atrás, quando eu treinava. Por exemplo, a diferença entre ficar em terceiro e quarto lugar ou até de ser campeão e vice. A psicologia ajuda muito a trabalhar essas questões esportivas, que são importantes demais.
Saltar de parapente foi muito louco. Acho que todo mundo deveria viver essa experiência. Com certeza foi meu lado aventureiro que gritou depois de muito tempo. Então, eu fui. Não tive medo, foi tranquilão. E sobre a Paralimpíada, eu tive oportunidade de conhecer a bocha. É um esporte muito completo para quem não mexe nada. E quem sabe futuramente eu não comece a treinar. Porque, querendo ou não, o esporte é meu mundo.
Não sei se foi o tempo ou foi ficar na cadeira que me fez ficar um pouco mais mulher. De encarar meus próprios medos. Eu penso muito mais na minha família, nos meus amigos. Se eu tiver que colocar uma pessoa do meu lado, eu tenho que analisar como a pessoa é, não dá para passar batido. Porque eu digo que hoje eu tenho uma pequena empresa. Por isso acho que estou mais mulher e ao mesmo tempo não.