Além das grandes performances dentro do mar, com aéreos, batidas e rasgadas que infernizam a vida dos adversários no Circuito Mundial de Surfe, Ítalo Ferreira acabou dando mais um motivo para ser admirado pelos fãs do esporte. O surfista teve o passaporte roubado há quatro dias e passou por uma verdadeira saga para conseguir chegar ao Japão na última terça-feira (10), onde acontecem os Jogos Mundiais da ISA. A participação no evento é obrigatória aos atletas que pretendem estar na estreia da modalidade nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano que vem. O potiguar chegou ao local da competição faltando 9 minutos para o fim de sua bateria e conseguiu a vitória.
Ao chegar à praia de Myasaki direto do aeroporto, Ítalo Ferreira vestiu a lycra da competição às pressas, pegou uma prancha de Filipe Toledo emprestada e entrou no mar de bermuda jeans para competir. Ele precisava de 12 pontos para conseguir a virada. Garantiu três pontos na primeira onda e, a um minuto do fim, arrancou um aéreo que garantiu-lhe o restante da pontuação para avançar de fase. O potiguar de Baía Formosa venceu Leandro Usuna (ARG), Dylan Southworth (MEX) e Frode Goa (NOR).
Mas essa nem foi a parte difícil para Ítalo Ferreira. Afinal, como ele mesmo relatou em seu perfil no Instagram: "Eu 'só' precisava surfar e fazer o que eu mais amo em um tempo curto". Antes de conquistar uma das vitórias mais rápidas e incríveis da carreira, Ítalo viveu dias de agonia para conseguir chegar ao Japão. Ele teve a mochila, que estava no carro, roubada, junto com alguns equipamentos eletrônicos. Em meio aos pertences, estava o passaporte do surfista, com todos os vistos que ele precisa para viajar aos países onde disputa as competições.
"Este era eu. Sem saber pra onde ir, sendo que, no mesmo dia, eu tinha um voo marcado para o Japão para competir em um evento mundial essencial na busca por uma vaga nas olimpíadas de 2020, em Tokyo. No dia seguinte ao roubo, tive ajuda de algumas pessoas do Brasil, Estados Unidos e até mesmo do Japão. Tentaram me ajudar com um passaporte novo, um visto japonês e o mais difícil: o visto americano. Todas as informações diziam que o melhor era eu sair dos Estados Unidos para refazer tudo (marcar horário, agendar entrevista, etc) no consulado americano. Então saí dos Estados Unidos no dia 08 de setembro e embarquei para Tokyo, com entrevista marcada para o dia seguinte, 09", relatou.
Só que o improvável aconteceu. Ítalo não conseguiu chegar a tempo para a entrevista porque o voo atrasou em razão de um furacão. O surfista, inclusive, teve que ficar 18 horas dentro do avião. "Então remarquei para as 8:30 do dia 10 de setembro, primeiro dia da competição, sem ter certeza de que o visto seria aprovado. Eu estava confiante e feliz, mesmo depois de tudo, só por ter chegado até o Japão. O visto foi aprovado, deixei meu passaporte no consulado americano e comecei mais uma missão. Fui correndo para o Aeroporto de Tókio* em busca do primeiro voo para a cidade onde eu iria competir. Minha bateria era a 6ª do Round 1, mas o evento atrasou 1 hora e isso me deu uma pequena chance de chegar a 'tempo'", contou.
O surfista publicou todo o relato em sua rede social como forma de deixar uma mensagem aos seguidores. "Se você tiver um problema na sua vida, NÃO DESISTA. ACREDITE! No final vai dar tudo certo, basta acreditar que é possível", concluiu.
Ítalo repostou homenagem de Filipe Toledo, que o emprestou a prancha que usou para competir, e agradeceu o apoio do amigo.